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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O Stalker


Acordei com um grito estrangulado, surpresa ao encontrá-lo em cima de mim.

O Stalker, todo vestido de preto, assim como sempre esteve.

Sim, eu já o vi antes, mas nunca tão de perto. Apenas me observando de uma porta escura, olhando pelas frestas das cortinas, sentado no banco do carona no carro ao lado, no metrô, de pé na calçada da rua enquanto eu esperava o sinal abrir. 



No entanto, eu já não tenho mais medo. Lembro-me de quando começou, fiquei apavorada, tranquei todas as portas e aumentei os cadeados delas, travei as janelas, disposta a me arriscar em um incêndio na casa desde que ele não pudesse me pegar.

Eu me preocupei que ele entrasse em minha casa enquanto eu estivesse fora. Embora estivesse tudo muito bem trancado minha imaginação frenética lhe concedia poderes sobre-humanos. Talvez ele pudesse se encolher ao tamanho de um rato, esperar que eu abaixasse a guarda, reassumisse o seu tamanho original e depois ele viria até mim enquanto eu estivesse assistindo TV, no banho ou enquanto dormia.

Há muito tempo eu comprei uma arma. A levava para todos os lugares, até mesmo em casa eu não a afastava de mim, mas agora, ela está guardada em uma gaveta.

Isso é como dizem: depois de algum tempo, você pode se acostumar com qualquer coisa, até mesmo um estranho todo vestido de preto espreitando cada movimento seu.

Ok, talvez seja estranho isso. Quero dizer, eu ainda tenho uma vida para viver. Trabalho, contas, festas. Mesmo que minha vida amorosa não seja tão ativa, é difícil ter intimidade com alguma pessoa quando há sempre alguém a observando.

Depois de algum tempo eu comecei a imaginar que o Stalker fosse um anjo da guarda. No geral, a minha vida tem sido bastante calma e sem preocupações, mesmo eu vivendo em uma parte da cidade em que o indice de criminalidade é extremamente alto, nunca fui assaltada, nem mesmo nos túneis escuros do metrô tarde da noite. Talvez o Stalker seja um cara bom. Talvez todo mundo tenha um, ele é simplesmente silencioso e discreto demais para se perceber.

Agora ele me olha cuidadosamente enquanto paira sobre mim. Como é que ele entra mesmo aqui? Tenho estado tão acomodada com sua presença que esqueci de trancar a porta? Agora me sinto invencível, dizendo a mim mesma que ele está me protegendo. Será que ele me assisti dormir todas as noites e eu nunca acordo antes para ver que ele está aqui?

Em todos esses anos, eu nunca vi seu rosto. Mesmo ele estando tão próximo de mim agora seu rosto é muito escuro. Talvez ele não tenha um rosto, apenas escuridão, como um Shinigami (Deus da Morte ou Ceifador), mas eu nunca o vi com uma foice... Ou talvez a foice seja um mito, criação artística de alguém para fazer a imagem da Morte parecer mais interessante.

Será que ele tem estado me observando todo esse tempo apenas esperando para ceifar minha alma? Com certeza A Morte deve ter uma agenda muito cheia, ele não se daria ao luxo de gastar todo seu tempo comigo, a não ser que ele tenha uma equipe de subordinados.

Olhei para o relógio. 03:47. Hora de voltar à dormir. Morte ou não Morte, eu tenho que ir trabalhar em algumas horas.

"Acabe com isso, ou me deixe voltar à dormir". Isso não saiu tão forte quanto eu pretendia, minha voz rouca e áspera. Ainda assim o Stalker se virou e saiu com um som sussurrante, como o som de folhas sendo arrastadas pelo vento.

Ele fechou a porta atrás dele. Pude ouvir o som da tranca fechar.

Eu rolei para o lado e fechei os olhos para voltar a dormir, sorrindo, finalmente descobri:

Todo esse tempo, ele tinha a chave.

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