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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Relatos - Parte 05 - No Escuro

No corredor entre minha cozinha e meu quarto, há um gabinete minúsculo onde eu estou sentado nesse momento. Ele serve como um pequeno depósito. Tem uma lâmpada fraca que ilumina esse lugar. É noite lá fora, e definitivamente eu não irei dormir. Bem, estou nesse lugar, e vou relatar o que acontece durante a noite comigo. 

Estava tudo normal quando peguei uma garrafa de água e umas bolachas, e vim para cá. Estamos no inverno, mas ultimamente tem feito bastante calor. Estou só de camiseta e bermuda aqui. 

Não tenho muito o que escrever.. Apesar de me fazer bem, esse pequeno caderno contém coisas que eu achei que nunca existiam. Bem... Só me resta esperar...

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Meu relógio de pulso marca 1:00 da madrugada. O sono veio um pouco, mas a cada sinal dele, eu releio o que eu vivi, e o espanto. Mas isso não parece estar me fazendo muito bem, e parece que ouço coisas lá fora. Pode ser somente minha imaginação.

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1:44. Eu ouvi algo lá fora. Nesse momento. Mas não vou sair daqui! Ainda tenho uma boa parte da minha água, e meio pacote de bolachas... Estou totalmente servido. E, pode ser nojento, mas meu banheiro será aqui. Essas coisas não irão me pegar...não irão....

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2:58. A luz da lâmpada está mais fraca. É por que eu não troco ela com frequência?

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3:20. Alguma coisa caiu na cozinha. Está ficando frio aqui também. Mas...mas não é um frio comum... Está gelado. Sai vapor quando eu falo. Não tem como ter esfriado tão repentinamente assim. Posso aguentar mais um tempo.... Novamente um barulho vindo lá de fora... Uma mesa parece ter se arrastado. Estou curioso. Muito curioso.

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3:34. Eu...Eu... Não aguentei....Precisei ver... Havia uma mulher com um vestido vermelho. Dava para ver ele nitidamente, mesmo no escuro completo. Ela estava sentada com a cabeça abaixada numa das cadeiras. Estava escuro. Eu chamei por ela. Ela.. Ela parecia estar chorando... Quando eu me aproximei um pouco mais e liguei as luzes, vi que a cozinha inteira estava banhada em um vermelho vivo. Toda minha cozinha estava redecorada. As torneiras estavam abertas, a mesa pingava esse vermelho como se ela fosse feita disso. Enfim, tudo estava pingando o que, logo constatei, era sangue. Um sangue que devia estar podre, pois havia um cheiro horrível. Eu estava assustado com tudo isso, quando percebi que a moça havia parado de chorar. Olhei para ela. E ela... Ela estava olhando para mim. Quer dizer, eu acho. Ela tinha os globos oculares vazios. Ela não tinha nariz também e sua boa estava costurada, como a minha estava na (imaginária?) sala de cirurgia. Eu percebi que o sangue, que cobria tudo, estava saindo debaixo do vestido dela. Antes que qualquer coisa pudesse  ser feita, corri de volta para o gabinete. E agora, aqui estou, tremendo de frio e medo. Sem nem conseguir gritar por ajuda....

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4:20. Eu continuei ouvindo sons de choro baixinho, e mesas e cadeiras se arrastando, por uns dez minutos. Depois o silêncio voltou. Minha comida acabou e a água também está acabando. Mas logo o dia irá surgir. Logo. 
Está muito frio. Não consigo nem escrever direito. Preciso de algo para me esquentar, se não morrerei congelado.

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5:30. Você deve estar perguntando o motivo da minha demora... Bem, eu sai logo depois da última anotação. Fui pegar um cobertor. Eu estava congelando. Sai, fui até meu quarto, e quando eu voltei, ouvi um pedido de socorro abafado. Ele vinha lá de fora. Fiquei paralisado. Quando o grito foi mais nítido, julguei que era uma pessoa de verdade, larguei o cobertor no chão e fui lá fora. Estranhei que a cozinha havia voltado ao normal, mas não parei. Quando saí, não havia nada. Então, a porta se trancou por dentro e eu não consegui voltar. Tentei forçar, mas não consegui. Dei a volta na casa, e a única abertura que achei era a janela do banheiro. 
Claro, eu podia ter ficado lá fora. Ido à casa de algum vizinho. Mas quem iria me atender? E quem sabe se eu estava salvo lá fora? Resolvi voltar. Achei um caixote velho no lixo perto de casa. O frio estava congelando o sangue das minhas veias, mas mesmo assim, consegui num grande esforço entrar. Bem, meu banheiro fica perto da porta da garagem, entre a sala e a cozinha. Abri a porta silenciosamente e olhei. Não vi nada, apesar de estar escuro. Sai do banheiro devagar, e fui indo em direção ao gabinete. Quando estava no corredor, de costas para a cozinha, ouvi dois risos. Paralisei. Eu conhecia aqueles risos. Conhecia muito bem! Virei devagar meus olhos e liguei a luz. E o que eu vi... era difícil acreditar. 
Na minha frente, sentadas em duas cadeiras, brincando com algum órgão humano, havia as duas gêmeas malditas. Elas sorriam aquele sorriso nojento... cheio de sangue. Em cima da minha mesa, a mulher do vestido vermelho estava deitada, e aquele médico-cirurgião, da noite anterior, estava mexendo nela. De relance, na sala, vi dois olhos gigantes e vermelhos me cuidando. 

- Hey, - o médico virou-se para mim - aguarde na fila. Você é o próximo.

Comecei a caminhar lentamente para trás. Eu senti a morte. Senti risos malignos. Senti a dor. Corri de volta para o gabinete. E quando eu estava fechando, uma voz gutural falou para mim:

- É chegada sua hora de se juntar a nós.

Me tranquei aqui novamente. Está frio... gelado. Eu não sei o que fazer mais. Não sei. Essas coisas não me deixarão em paz. Mas já está amanhecendo... Já está... E eu estarei livre... É... Estarei livre...

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"Emily estava brincando com alguns amigos no corredor. Sua mãe estava dizendo que não podiam correr, ou iriam acabar se machucando, quando a garota tropeçou e bateu com a cabeça na parede. A mãe largou tudo que estava fazendo e foi socorrer a menina. Ela estava bem, mas a parede havia rachado. Então sentiu um cheiro podre vindo de lá. Era horrível. Mais tarde, quando chamaram os policiais, descobriu-se o cadáver de um homem. Feita a autópsia, descobriu-se que era de um homem dado como desaparecido há mais de 30 anos. Parece que ele havia morrido dormindo. 
Indagada sobre o fato de haver um corpo naquele lugar, a mãe de Emily disse que quando haviam comprado a casa, não havia nem aquele gabinete. Depois de um tempo de procura e investigação, arquivaram o caso, pois não encontraram muitas provas e nem culpados, se é que havia algum.
A família de Emily resolveu mudar de ares. Foram morar do outro lado da cidade. Eles superaram o ocorrido e vivem tranquilamente. Hoje Emily foi conhecer seus colegas novos e está contando como foi seu dia para sua mãe, que estava em casa.
Emily irá encontrar, depois, um caderno negro e alguns pergaminhos antigos em cima da sua cama. Ela é uma garota corajosa e ousada, irá esconder de seus pais e irá ler. Lerá tudo. 


E quando acabar... Bem, quando acabar... Eles estarão livres novamente."

FIM DA 1ª TEMPORADA

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