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domingo, 20 de outubro de 2013

O VENTO SOPRA UM SEGREDO


Sentei-me na varanda, me preparando para fumar o último cigarro da noite. Já era tarde e meu corpo estava cansado. Pouco tempo depois apaguei meu cigarro e um barulho me chamou a atenção. Ele era muito fraco, então logo joguei-o para fora de minha mente e fui me deitar.

Na manhã seguinte, voltei a minha varanda para fumar mais alguns cigarros e beber um pouco de café. Eu vi o mundo acordar comigo, os carros andando através dos cruzamentos como um grupo formigas e os pássaros fazendo sua volta eterna. Assisti a cena por um bom tempo, até que ouvi o barulho de novo. Por um momento, pensei ser o vento, já que eu podia ver as folhas de palmeira balançando. Apertei os olhos e olhei para o nada, inclinei a minha cabeça para tentar ouvir melhor o som. Não foi apenas o vento. Havia uma voz.

Eu tentei esquece-lo novamente e continuar o meu dia, retornando para a varanda de vez em quando para um outro cigarro. Eu encontrei-me apertando os olhos e inclinando a cabeça todas as vezes, eu esquecia do mundo a minha volta graças a esse vento susurrando. Eu não conseguia entender o que ele estava dizendo. Era uma voz como a televisão em uma sala ao fundo do corredor, sufocado por três ou quatro paredes entre nós. Não importa o quanto o barulho em torno de mim morria, o sussurro ainda estava tão baixo.

Eu peguei uma outra xícara de café, junto com o meu almoço e um cigarro para fumar depois. Me sentei nessa maldita varanda. Eu me senti estranho. Eu me senti quase como se eu não fosse eu, como se eu fosse um ator em um roteiro de minha vida. Eu sabia instintivamente minhas falas e cada movimento que eu tinha de fazer. Comecei a temer a voz no vento.

A comida. Eu ainda estava sentado na varanda enquanto eu comia. Eu não queria comer, eu só sabia que eu deveria. Eu não tinha certeza de que eu estava comendo, mas eu ainda comia por alguma necessidade. Acendi meu cigarro e agussei meus ouvidos. Gostaria de ouvir o que a voz dizia. Deveria ouvir esta voz. Me mantive sentado durante uma hora, permitindo que o cigarro queimasse até meus dedos. Eu nem me mexi quando senti que minha carne queimava. Queria ouvir a voz. Queria ouvir a voz que eu sabia que me contaria um segredo. Acabei adormecendo.

Eu balancei a cabeça. Não sabia quanto tempo tinha dormido, mas o céu estava escuro e as luzes da rua acesas. Eu iria continuar dormindo depois de saber as palavras que o vento sussurrava. O torcicolo no meu pescoço me incomodava um pouco enquanto eu esperava para o vento me dizer as palavras que eu desesperadamente queria saber.

Do canto do meu olho, eu vi a lua crescente no alto do céu, quando eu finalmente ouvi a voz novamente. Era clara. Não mais três ou quatro quartos de distância, agora era apenas do outro lado da parede.

Eu podia ouvi-la! Eu podia finalmente ouvir as palavras! Minha comemoração interna foi interrompida, no entanto, quando finalmente entedi o segredo que o vento estava escondendo de mim.
 


"Os Antipsicóticos parecem estar funcionando, doutor."


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