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segunda-feira, 26 de maio de 2014

A Origem - Parte 04 - Legado


"Nós todos temos apenas essa vida para aproveitar. Pois a próxima só nos reserva angústia e desespero, para sempre." 


- Frase dita antes por um amigo de Oh'Malk, nos tempos de guerra

Oh'Malk estava sentado na antiga casa de Sal-Al. Ele estava se preparando para o ritual, que iria acontecer em breve. Ele ficara isolado do resto da aldeia. Sendo assim, ele não imaginava como estava sendo aceito todas as novidades que ele contou para os habitantes, e muito menos sabia como as garotas estavam reagindo a todo aquele mal contido nos pergaminhos. 

Mas Oh'Malk estava pensativo. Estava muito pensativo. E ele sabia, com certeza absoluta, que isso não agradava a guardiã da tribo.


Naquela manhã, depois de se ajeitar, sentou-se e pensou. Pensou muito. Sabia que era errado o que estava fazendo. Apesar de tudo, sua humanidade ainda existia. Ele estava confuso demais. Tudo o que aprendera fora lutar e lutar, ainda mais depois que residia naquele lugar. Passava quase todos os dias matando e fugindo. Ele estava cansado.

Então ele foi interrompido e tirado de seus pensamentos por alguém que veio lhe chamar e avisar que estava na hora. Mesmo na fina e trêmula linha tênue que o separava da desistência total, ele se levantou e bravamente seguiu em frente.

O dia estava nublado. Era estranho, sabendo que onde eles ficavam quase nunca havia sossego do calor. As pessoas de toda tribo estavam de ambos os lados, formando um caminho até a estátua levantada em homenagem a guardiã deles. Estavam todos enfileirados e com mantos e capuzes pretos. Andando por eles, Oh'Malk lembrou que nenhum deles estavam mais vivos de fato. Ele já havia matado todos de lá, pelo menos uma vez.

Quando estava alguns metros distante da estátua, ele viu as garotas. E foi provavelmente aquilo que o chocou mais em toda a sua vida.

Sentadas no chão, num estado de demência, as irmãs gêmeas brincavam em corpo irreconhecível de algum prisioneiro de guerra. Oh'Malk olhou assustado para elas, que assim que o viram, começaram a ter relações sexuais entre elas sob o corpo mutilado do pobre prisioneiro. Oh'Malk sentiu seu corpo revirar como nunca e deu uma gorfada. 

Apesar do repúdio da cena, Oh'Malk passou pelo lado delas e sentou em uma cadeira, feita especialmente para aquela ocasião, que estava ao pés da estátua.

Assim que ele se sentou, as meninas pararam o que estavam fazendo. Oh'Malk só pensava no que elas tinham passado e como conseguiam se manter vivas. Elas estavam nuas, e se posicionaram na frente dele, ambas com as cabeças abaixadas. Então começaram a recitar algumas palavras, repetindo-as. 

Logo que isso começou, algumas pessoas atrás nas filas começaram a gritar. Não demorou muito para todas estarem gritando de desespero e dor. Algumas estavam ajoelhadas. Por fim, elas começaram a soltar uma fumaça negra pelas aberturas dos seus rostos. Conforme aquilo subia para o céu, os corpos das pessoas caiam apodrecidos e então sumiam. As meninas falavam cada vez mais alto e mais alto. 

Oh'Malk, que até então estava apenas impressionado com tudo, começou a sentir medo.

Nesse momento, as garotas pararam e congelaram. Pareciam que esperavam por aquele momento. Oh'Malk aproximou-se um pouco delas. De repente, elas levantaram suas cabeças e olharam para ele. Seus olhos eram vermelhos-sangue. Oh'Malk agarrou-se a cadeira. 

Elas então deram-se as mãos, e um com uma pequena adaga cada uma, cortaram a garganta uma da outra. O sangue jorrou para cima de Oh'Malk, banhando ele todo. Elas, incrivelmente, sorriam, como se desejassem aquilo mais que tudo.

Oh'Malk nunca havia visto seres tão aterrorizantes quanto aquelas garotas.

Então toda aquela densa e escura fumaça desceu do céu. Encobriram o corpo de Oh'Malk. Ele podia ouvir o som do desespero. 

Nesse momento, um ser enorme apareceu entre as sombras. Era possível perceber isso devido aos seus enormes e gigantescos olhos vermelhos. Uma voz inimaginável rugiu entre todos aqueles sons e bagunça:

- Está na hora, "Escolhido". Entregue-se a mim!

Era a hora. Aquele momento decidiria não só o seu futuro, assim como todo o futuro da humanidade. Oh'Malk achava que estava pronto. Mas, antes de completar o primeiro passo, a razão dele gritou de seu interior. Sua humanidade, seu amor pelo mundo e pela vida, que ele achava que tinha sumido fazia tempo, apareceu como uma explosão debaixo da água, querendo empurrar toda aquela pressão que estava sob ele.

- Não! Eu quero viver! - Oh'Malk gritou com todas as forças que tinha.

Porém, assim como a explosão que tenta se desvencilhar da água é contida pela pressão do mar, sua intenção também logo foi apagada.

- Não seja tolo, pobre humano. Não terás outra chance! - A Morte rugia como o pior dos demônios.

- Não! - Oh'Malk havia tomado sua decisão. Não havia salvação para ele, mas ele garantira a da humanidade, pelo menos por enquanto. 

A Morte berrou de raiva. Ela precisava da aceitação do humano para poder tomar o controle. Então, em surto de poder, ela arrebatou o corpo de Oh'Malk e o mutilou em centenas de milhares de pedaços e o jogou para longe. Matar o humano não desfez sua raiva, então ela desfez como papel a tribo inteira. 

- Da próxima vez, eu corrigirei os erros. Farei diferente. Ficarei mais forte. E então, nada irá me impedir!

E num último grito de ira, tudo aquilo desapareceu. A única coisa que sobrara foram alguns pergaminhos jogados sobre a areia.

Muitos séculos depois, esses mesmos pergaminhos apareceram, sabe-se lá de que jeito, em um hospital. Uma mulher iria ser operada em algumas semanas, e o melhor doutor da região iria fazer a operação. Tinha tudo para se tornar um sucesso.

Do outro lado da vida, a Morte observava aquilo.


Ela sorria.

[ Final do Spin-Off ]
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E é assim que termina o Spin-Off da saga Pergaminhos da Morte. Espero que você tenha aproveitado o tempo que usou para ler toda a saga e espero que tenha curtido também. Com muita honra e muito orgulho, finalizou mais essa saga aqui no Ler, pode ser... Assustador. 
Se gostou, adoraria ver seu comentário apoiando e incentivando, ou agradecendo. Se não gostou ou acha que tem algo para melhorar, comente com críticas construtivas e sacadas que só vocês leitores tem. 
Fiquem bem e até a próxima creepy ou saga que eu resolva escrever! Até mais!
Rogers

4 comentários:

  1. Parabéns cara!!
    Só que fiquei ansioso por um final.
    Tanto "A Origem" quanto "O relatório Final", terminaram com um suspense, pedindo por uma continuação.

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    Respostas
    1. E aí Felipe?! Beleza?
      Então, cara, quando escrevi sobre os relatórios, a intenção não era terminar a saga. Mas aí acontece que terminei. Eu gostava de escrever sobre, mas acredito que parei por conta da criatividade. E sobre essa parte da "Origem", a intenção era mesmo deixar uma ponto solta, até para ligar com a saga "Relatórios", entende?
      Quem sabe um dia eu não me anime a escrever novamente?

      Abraços!

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