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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Kill Me - Capítulo 2: "Lar, Doce Lar"


Desculpem a demora. Não achei que alguém realmente estivesse acompanhando. Clique aqui para ler o capítulo 1.



O taxi a levou até uma antiga área residencial mal iluminada, em uma ruela quieta nos subúrbios da pequena cidade. Aquele conjunto de moradias antiquadas havia sido luxuoso no começo do século 20, mas agora a maioria das casas estavam há muito abandonadas e possuíam um aspecto lúgubre que as transformava num cenário perfeito de histórias de terror.
Lilith saltou em frente a uma dessas antigas residências, uma casa tão enorme e escura que chegava a ter um aspecto ameaçador. A infame Mansão Phantomhive. Dizem que os adolescentes curiosos que se aventuravam por seus corredores nunca voltavam, e era verdade, mas pouco tinha a ver com espíritos vingativos. Acontece que a mansão era habitada, embora nunca houvesse uma única luz acesa sequer, e ninguém jamais fosse visto entrando ou saindo.
O portão principal estava há muito trancado por correntes enferrujadas. Não havia como escalá-lo, pois em seu topo haviam lanças pontiagudas que um dia serviram para afastar assaltantes. Era necessário conhecer bem o local para saber que havia um pequeno buraco na cerca viva pelo qual era possível se esgueirar. Lilith passou por ali sem dificuldades, praticamente deslizando com uma cobra, e espreguiçou-se ao levantar do outro lado.
Se os olhos negros de Lilith não fossem projetados para enxergar no escuro, ela com certeza estaria tropeçando em tudo quanto é lugar. O jardim que cercava a mansão provavelmente havia sido estonteante algumas décadas antes, mas no momento era tão mal cuidado que quase impossibilitava a passagem. Finalmente, ela alcançou o majestoso portão interno que a levaria para o interior da misteriosa moradia. Na madeira carcomida, com uma tinta vermelho-escura de origem desconhecida, havia algo escrito com uma caligrafia elegante: "Refúgio dos Descendentes da Grande Lilith."
O nome de Lilith era uma homenagem ao demônio bíblico do qual todos os súcubos e íncubos, mais conhecidos como simples "vampiros", acreditavam ter se originado. Lilith foi quem ofereceu o fruto proibido a Adão. Ela induzia os tolos mortais ao pecado e tirava vantagem disso. Possuía forma feminina e era conhecida por absorver a energia vital dos homens com quem se relacionava sexualmente. Energia vital estava presente no sangue fresco, e vampiros necessitavam disso para compensar a sua própria falta de vitalidade.
Dizem que Lilith queria contaminar os seres humanos, a obra-prima de Deus, simplesmente para irritá-lo. Então, se relacionou com um homem, mas não o matou, engravidando assim da primeira súcubo. Ela possuía uma bela forma humana, porém não possuía vitalidade alguma, não necessitava respirar ou ingerir qualquer alimento além de sangue, e sua aparência se assemelhava tanto a um cadáver que os humanos começaram a se assustar e persegui-la. Mesmo assim, ela tinha talentos que lhe possibilitavam seduzir qualquer pessoa e assim proliferar a espécie. Tornou-se uma criatura supostamente mitológica e muito temida. Inicialmente haviam muitos deles. Mas a Igreja Católica conseguiu descobrir suas poucas fraquezas e foi eliminando-os aos poucos, além de forçá-los a se esconder.
Eles tinham uma grande vantagem: eram perpétuos. Nunca entrariam em extinção, independente das tentativas. Hoje em dia se dividiam em comunidades como os Descendentes, e cuidavam um dos outros, mantendo-se seguros e tentando não se arriscar diante dos olhos dos mortais. Podiam contar sempre com o auxílio da Grande Lilith, a quem cultuavam frequentemente, sob a pena de perder os poderes que ela lhe dera tantos séculos antes. Ela era adorada e ao mesmo tempo temida.
Lilith era uma das poucas vampiras que nasceram assim. Seu pai era um incúbo, macho da espécie, e sua mãe, uma súcubo. Ela nascera com características mais humanas e cresceu normalmente até seu aniversário de 18 anos, quando foi totalmente transformada e passou a ser uma predadora imortal. Também se tornou ciente de seu inevitável destino: sua mãe era uma importante sacerdotisa da Grande Lilith e garota teria de sucedê-la no futuro, querendo ou não. Ela não queria e ninguém podia obrigá-la. O pai a apoiava nisso, até que desapareceu misteriosamente. Era óbvio que a mãe estava envolvida. De acordo com ela, o pai de Lilith havia simplesmente "negligenciado a vontade da deusa-demônio." Lilith não olha a mãe nos olhos desde então. Mas isso fora há 150 anos e todos fingiram esquecer.
Distraída, pensando no passado e tentando adivinhar o futuro, Lilith empurrou o portão de leve. Ele se abriu lentamente, detectando sua presença, e produziu um rangido enferrujado que já anunciaria sua chegada a todos. Lilith adentrou o largo salão principal, aparentemente deserto. Os vampiros precisavam manter as aparências, portanto todos os móveis pertencentes aos últimos moradores da casa estavam espalhados pelos cômodos, empoeirados. O aspecto era realmente sinistro.
Lilith subiu a longa escadaria de mármore diante de si e chegou ao segundo andar, composto por diversos corredores preenchidos pelo ar estagnado e pela abrangente escuridão. Não parecia haver alma viva, mas, aos poucos, enquanto caminhava, ela começou a vislumbrar o que pareciam sombras se movendo. Algumas pareciam diminuir o passo ao se aproximar, como se a cumprimentassem. A medida que avançava, parecia ter se transformado em uma sobra móvel também, tamanho o silêncio.
Ela sabia exatamente por onde estava indo, apesar de que qualquer um se perderia naquele breu absoluto, enquanto penetrava mais no interior daquela mansão que parecia não ter fim. Até que começavram a surgir velas. Muitas, muitas velas. Logo era possível distinguir rostos pálidos na escuridão. Um deles sorriu ao ver Lilith, revelando um par de caninos afiados e reluzentes.
– Ei, Lili! - Saudou uma voz masculina, jovial, alegre e familiar. Aproximou-se dela. Era Caleb. Lilith já sabia o que ele queria. Tão interesseiro, aquele garoto.
– Meu nome é Lilith. - Ela resmungou, já procurando a garrafa de "vinho" dentro da bolsa.
– Ok, Srta Delacour. O que trouxe para mim? - Caleb perguntou ansiosamente. Seus olhos brilhavam em um tom avermelhado, o que indicava que ele já estava ficando faminto.
– Só uma garrafinha. A maior parte ficou para mim, naturalmente. Da próxima vez vou deixar você vir comigo e eu prometo que divido. Mas vamos para o meu quarto, estou exausta. - Lilith respondeu, já sentindo-se fuzilada pelos olhares invejosos dos outros membros. Quando alguém tinha comida de sobra, devia compartilhar. Mas ela estava compartilhando.

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