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segunda-feira, 14 de julho de 2014

O Meu Aniversário


Ao fim e em vermelho o texto enviado pelo nosso querido leitor:  Vinicius - vini200****@hotmail.com


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O dia do meu aniversário de 16 anos amanheceu cinzento.

Caiu em uma segunda-feira e eu tinha de acordar 6 da manhã para ir a aula. O som estridente do meu despertador era o primeiro sinal do quanto o dia seria deprimente. Quando fui desligá-lo, quase o derrubei no chão, e soltei um grunhido.


Levantei após alguns momentos sem ânimo de me mover. Fui cambaleante como um zumbi até o banheiro e tomei um banho gelado para ver se me despertava um pouco. Não funcionou, mas ao menos eu já havia me conformado que teria que encarar meu dia-a-dia entediante mais uma vez, como se aquela manhã não fosse diferente das outras. Vesti qualquer coisa confortável e limpa e saí para tomar meu café.

Eu moro sozinha com minha mãe em um apartamento pequeno desde o divórcio dos meus pais, há vários anos. Ela nunca foi exatamente calorosa comigo. Parecia que eu era apenas a filha aborrescente que ela tinha de sustentar, um fardo. Porém, nos meus aniversários ela costumava ceder um pouco. Encontrei-a bebericando uma xícara de café, sentada na mesa da cozinha, com o olhar perdido em algum pensamento distante.

- Bom dia, mãe! – Eu a cumprimentei animadamente. – Sabe que dia é hoje?

Ela levantou os grandes olhos castanhos e tristes para mim, porém não respondeu, e fez um movimento súbito com a cabeça como se houvesse se assustado. Não me importei muito, afinal não queria conversa. Apenas esperava uma palavra carinhosa, um parabéns, um abraço, qualquer coisa que indicasse que ela ao menos lembrava do meu aniversário.

Comi uma barrinha de cereal, tomei um café puro e bem forte, peguei a minha mochila que estava pendurada em um suporte perto da porta e saí de casa para encarar o meu dia de frente.

O caminho entre a minha casa e o ponto de ônibus era curto e eu costumava passar por vários vizinhos que eu conhecia ao percorrê-lo. Eu sempre lhes dava um bom dia e eles sempre respondiam simpaticamente. Porém, hoje estavam me ignorando. Pareciam focados demais em alcançar seus destinos. Tentei não me importar, mas no fundo isso me aborrecia, afinal era o meu aniversário e o contrário devia estar acontecendo.

No ônibus, aconteceu algo que realmente me assustou. O motorista simplesmente não me cobrou o dinheiro. Quando eu lhe estendi o pagamento, ele nem sequer se virou. De olhos arregalados, mas sem comentar nada, eu saltei novamente e por algum motivo achei melhor ir a pé.

Cheguei exausta e atrasada a escola, mas ninguém me repreendeu por isso, então simplesmente me sentei e comecei a assistir  sem prestar atenção a uma aula chata de matemática.

Uma garota que eu não conhecia, provavelmente nova, chegou logo depois de mim e ninguém pareceu reparar nela também. Ela era esguia, de uma palidez quase albina, e seus cabelos negros, muito lisos e compridos, combinavam com seus olhos também escuros e brilhantes. Ela era muito bonita, mas sua beleza me dava calafrios, de uma forma que eu não sabia explicar. Também não sabia explicar porque fiquei subitamente nervosa quando ela se sentou bem atrás de mim.

A aula passou mais rápido do que eu esperava e logo chegou o intervalo. Saí de sala com a certeza de que meus amigos me parariam pelo corredor apenas para me dar um feliz aniversário. Estava enganada. Quando desci até o pátio, me sentei sozinha em um banco, e meus olhos estavam ficando marejados sem que eu percebesse.

A garota pareceu surgir do nada e se aproximou de mim. Sentou ao meu lado e foi como se uma força invisível me obrigasse a olhar direto em seus olhos. Mas aqueles olhos... não eram os mesmos que eu havia visto da primeira vez. Não eram olhos humanos. Era como se o negro de suas pupilas houvesse se espalhado por toda a parte branca. Não havia nada além de escuridão, e um pequeno brilho lá no fundo, como uma estrela solitária em uma noite sem lua.

Quando ela sorriu para mim, vi que seus dentes eram de um branco ofuscante e afiadíssimos. Não consegui me mover quando ela começou a falar, com sua voz rouca e sombria:

"Por acaso você não lembra de ter dito que o seu dia (dia do seu aniversario) amanheceu "Cinzento"? 

Sabe porque sua mãe fez um movimento súbito como se estivesse se assustada?

Sabe porque hoje seus vizinhos te ignoraram na rua?

Sabe porque o motorista não lhe cobrou o dinheiro?

Sabe porque ninguém te repreendeu quando você chegou atrasado a escola?

E sabe porque seus amigos não te pararam para lembrar do seu aniversario?

PORQUE você está morto, MORTO! Você só é um espirito vagando pelas ruas nos mesmos dias monótonos de sempre".

2 comentários:

  1. Não acredito que demorei 30 minutos pra fazer um enorme texto '-'
    Acho que foi ignorado '-'

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  2. Um pouco previsível, mas eu gostei. ^^

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