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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O Espírito Incendiado


Baseado em uma história real japonesa.


Alguns meses atrás, uma parente distante minha faleceu subitamente, deixando sua filha de 7 anos. A pobre garotinha ficou abandonada e inconsolável, ninguém a queria, até que minha tia decidiu acolhê-la. Ela poderia fazer companhia a sua própria filha. Ela fez o máximo para que a garota fosse feliz, mas ela se tornou uma criança muito quieta e melancólica, com medo de todos, sempre escondida atrás da saia de sua mãe adotiva. Devia ser o trauma.

Certo dia minha tia me ligou, perguntando se eu poderia ficar de babá durante uma noite. Aceitei sem pestanejar, pois adorava crianças e estava muito ansiosa para conhecer minha priminha. Lá chegando, minha tia tentou nos apresentar, mas a menina mal tinha coragem de me olhar nos olhos. Seu nome era Tsubaki e ela era tão linda e gentil, porém parecia estar sempre aterrorizada. E não era a mim que ela temia, eu tinha certeza. Parecia algo que ninguém além dela podia ver.

Mais tarde naquele dia eu estava lendo um livro de contos infantis para Tsubaki, que estava deitada no meu colo. Interrompi minha leitura quando percebi que ela adormeceu e sorri para o seu semblante tranquilo. Então, senti algo muito estranho. Como se alguém estivesse nos observando fixamente. Podia sentir olhos queimando na minha nuca, eles vinham de trás do sofá no qual eu estava sentada. Olhei para trás involuntariamente, e vi uma marca negra na parede branca. Se assemelhava a uma mão, e quando eu toquei nela, recuei imediatamente. Estava fumegante, soltando fumaça. Tentei ignorar aquilo. Podia ter sido... Um acidente de cozinha?

Anoiteceu e Tsubaki e eu fomos para a cama cedo. Dormimos no mesmo quarto, pois ela não suportava ficar sozinha. Algo típico de crianças com medo do escuro, certo? Eu não consegui pegar no sono pois percebi que a menina se remexia inquieta na cama, como se algo a perturbasse. Perguntei se ela estava se sentindo bem. Ela foi até mim e agarrou meu pulso com força. Então sussurrou em um fio de voz, mas com uma seriedade gélida:

- Eu estou vendo uma pessoa escura.

- Hã?

Ela apontou para o meio do breu e eu segui os seus olhos. Me concentrando, pude ver um par de olhos negros e brilhantes se distinguindo na escuridão. Eles nos encaravam fixamente, sem piscar. A silhueta de uma mulher era mais escura do que as sombras do quarto e se destacava. Abracei Tsubaki, fechei os olhos com força e tentei me convencer de que era apenas um sonho. Mas o espírito, ou seja lá o que fosse, não desviou os olhos de nós, e eu podia sentir enquanto ouvia o choro baixinho da criança.

No dia seguinte, ainda estava com a imagem nítida em minha mente quando fui conversar com minha tia. Tomada de uma súbita curiosidade, quis esclarecer algumas coisas que não sabia sobre a morte da mãe da garotinha.

- Ninguém me contou como a mãe dela morreu.

- Ela foi encontrada nas ruínas em chamas de sua casa. Seu corpo estava completamente carbonizado, irreconhecível. Dizem... Dizem que ela incinerou a si mesma. Por sorte Tsubaki estava na escola.

A voz de minha tia tremia. Realmente, era uma história terrível.- Mas ela não sabe como sua mãe realmente morreu. Não tivemos coragem de contar a ela. É melhor assim.

Assenti em silêncio, de olhos arregalados. De uma vez só, compreendi. A pessoa escura era o espírito queimado da mãe de Tsubaki. Ela a visitava toda noite, cuidando de sua filha. Talvez ela quisesse algo mais. Mas a menina não sabe quem é ela, e isso vai deixa-la aterrorizada a vida inteira.

Achei que devia contar a Tsubaki, mas também não tive coragem. Então apenas fui embora, rezando em silêncio pela alma daquela mulher. Olhei para trás enquanto me afastava e vi a doce garotinha acenando para mim da janela. Atrás dela, um vulto escuro. Estremeci pela última vez, e diversas vezes aquela imagem assombrou meus pesadelos. Mas não era eu que teria que dormir com aquela alma penada me olhando.

Pouco depois, minha tia morreu. Simplesmente foi encontrada sem vida em sua cama. Infarto fulminante, eles disseram. Mas parecia coincidência demais, certo? Aquela mulher queria sua filha de volta e faria qualquer coisa para conseguir. Então, Tsubaki foi enviada para um orfanato. Não sei onde ela está agora, mas tenho certeza de que enquanto ela viver, o espírito perturbado a acompanhará.

1 comentários:

  1. ora, quando imaginei a cena da garotinha acenando com o vulto atrás dela, eu estremeci.
    pra mim a tia dela infartou, por que viu algo assim.
    creepy manera o/

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