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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Adormecendo


Dormir... A simples ideia de adormecer a aterrorizava. Ela não queria dormir, pois sabia muito bem o que a aguardava em seu inconsciente.

Era aquele sonho. O sonho horrível e recorrente.

No pesadelo, ela sempre se encontrava presa em uma caixa. Não havia luz e era apertado demais para que ela pudesse se mover. E invariavelmente terminava com a caixa se estilhaçando e a aterradora sensação de estar caindo...


Caindo...

Caindo...

Caindo...

Na primeira vez em que teve esse sonho,  ela acordou tão assustada que levou uma hora para que conseguisse adormecer novamente. Na noite seguinte, o sonho se repetiu, na próxima também, e depois novamente...

Toda noite, o pesadelo retornava para assombrar seu sono e todo dia, a deixava tremendo de medo com o que estaria à sua espera durante a noite. Ela tentou falar sobre isso com seus pais e amigos, mas não encontrou nenhuma solução para seus problemas. Finalmente, decidiu guardar aquilo para si mesma.

Duas semanas haviam se passado desde que o pesadelo começou. Era uma da manhã e apesar de seu medo, ela acabou sucumbindo à exaustão e caiu no sono. De repente, ela abriu os olhos e se viu cercada pela escuridão. Mais uma vez, ela estava presa no cubículo. Ela não conseguia sequer erguer os braços. Ela aguardou, inerte, como uma múmia em um sarcófago. 

E então ela sentiu todos os lados da caixa desmoronarem, as paredes de seu caixão caíram no vácuo e ela começou a ser puxada pela gravidade imbatível junto com todo o resto...

Ela caía...

E caía...

E caía...

Ela tentava desesperadamente se apoiar em algo mas não havia nada ao que se agarrar. Ela só queria que aquilo parasse. Na verdade, ela planejava descobrir o segredo do seu pavoroso e repetitivo pesadelo. Dessa vez, ela iria ver o que acontecia no fim do sonho... Depois da queda.

Ele se obrigou à continuar dormindo. Ela não queria acordar. Ela se forçou à continuar vivenciando o sonho.

Então, gradualmente, a sensação de queda desapareceu, e lentamente seu corpo inteiro relaxou. Ela teve a impressão de estar sendo enrolada em algodão. Ela se sentiu mais calma, quase sonolenta, como se ela estivesse no limiar entre o sono e o despertar...

Ela acordou, deitada em sua cama.

A luz estava acesa e sua mãe estava ajoelhada ao seu lado, observando-a carinhosamente. O rosto doce da mãe estava iluminado pelo brilho caloroso do abajur da cômoda. Ela se sentia segura, tranquila e descansada.

Ela tentou contar para a mãe o que havia acontecido, mas percebeu que não conseguia mover os lábios! Ela tentou várias vezes, mas sua boca parecia colada. Em pânico, ela tentou mover a cabeça, mas parecia imobilizada por alguma força invisível. Então, aterrorizada, ela fez força para movimentar qualquer membro, mas seu corpo permaneceu imóvel. Ela estava completamente congelada. Não conseguia nem fechar os olhos.

Foi nesse momento em que o horror se completou. Sua mãe começou a cair aos pedaços e se decompor na frente dela. Sua pele se tranformou em couro empoeirado e descascou, revelando a carne vermelha e repugnante por baixo. Centenas de pequenos vermes rastejaram para fora do seu nariz e boca. Seu lábios murcharam e caíram, deixando à mostra o osso da mandíbula nua. Suas pálpebras apodreceram e tombaram, uma por uma...

Ela quis berrar, quis chorar, mas não conseguia fazer nada além de encarar horrorizada o espetáculo terrível que acontecia diante dela. O desespero atingiu novos níveis à medida em que o corpo de sua mãe se decompunha em uma massa molenga de carne e ossos. Ela sentiu seu corpo todo ficando entorpecido. Um frio gélido a dominou. Lentamente ela se sentiu afundando....

Afundando...

Afundando...

Afundando...

Até que tudo se tornou breu e se dissolveu em vazio...

No dia seguinte, seus pais a encontraram morta na cama. Ela havia sufocado durante a madrugada. Sem saber, ela sofria de apnéia do sono. Toda noite, enquanto dormia, sua respiração ia diminuindo até finalmente parar. O alarme causado pela sensação de queda em seus sonhos sempre a despertava e a impedia de sucumbir à falta de oxigênio...

Mas ao se obrigar a continuar dormindo, ela finalmente descobriu o que a esperava no fim do sonho...

A morte.

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