Estou deitado no que parecia ser uma cama de hospital com as minhas mão e pernas amarradas. Tem sido assim por mais de 4 horas, desde da hora que eu despertei.  Não me lembro de como cheguei aqui ou mesmo qualquer que tenha acontecido.  A última coisa que me lembro foi que eu adormeci segurando minha namorada.

Sei que deve ter se passado pelo menos uma semana graças ao relógio preso naquela parede, a hora infelizmente parecia se arrastar…

Não há paredes claras nesse recinto, nem mesmo sei se e de manhã ou mesmo de tarde. A única luz que há aqui além da luz do abajur e o da luz do monitor que está preso acima da minha cabeça.
E horrível.
Ele mostra o reflexo.  Mas apesar de ser horrível,  não consigo fechar meus olhos ou mesmo desviar meu olhar.

A tela mostra um outro quarto branco, mas parecido com o meu - Escuro. Cinza. E solitário - e assim vejo aquele quarto, num quase vertical de um presente do qual vivo. Pois no mesmo quarto vejo alguém preso como eu.

Eu não tenho certeza do que é, mas não é humano.  Sua forma e humanóide, mas definitivamente não é humana. Sua pele é cinza, seu cabelo é escuros como o breu e parece cobrir metade do seu rosto.

Eu estive aqui deitado em silêncio desde da hora que eu acordei. Minha garganta está seca, mas por alguma razão eu não conseguia emitir som.  Sei que minha boca não irá abrir ou mesmo emitir som. Sinto meus dedos dormentes com o toque frio da maca. Tudo o que eu ouvia era minha respiração falhando, ficando mais rasas. E sinto que não posso ter muito tempo. Na sala ao lado ouço o som de correntes.  E pelo monitor vejo entre a estática uma cena de terror.

Abri minha boca para respirar fundo e a tela acima de mim se moveu. Vi aquela imagem , distorcida por cima da estática da tela. Ele não se moveu até que eu abri minha boca novamente.  Ele se moveu em direção a tela com seu corpo esguio e torcido, mantinha a boca aberta, que se mostrava como um poço de escuridão, que aos parecia escorrer de sua boca manchando a sala.

Podia ouvir o som de sua boca aberta, ressoava um som grosso e animalesco.  Agora podia ouvi-lo por toda a sala. Não a partir do ecrã, mas sim pela sala , sussurrando pelas paredes. Não em sua voz, mas pelas vozes das pessoas pelas quais eu conheço.  Aquele ser não diz nada que possa ser coerente, mas ele sabe meu nome.

Eu balancei a cabeça e apertei meus olhos tentando bloquear a imagem na tela. Ele me imitava, olhava diretamente para a câmera. Sua boca estava aberta de forma horrenda,  seus olhos sem vida e ele ele, sorria para mim.  Eu via seus olhos - se é que são olhos - eles eram foscos, com uma cor vazia, com um pequeno reflexo vermelho em seu olhar...

Ele olhava para mim

Uma lágrima rolou por meu rosto,  na tela do monitor vi minhas lágrimas,  mas não com gotas de água, mas sim uma coisa preta,  que marcava minha pele e queimava. Por que eu não podia fechar os olhos?

Não aguento mais.
Comecei a gritar, convulsionando sob minhas restrições. O que me aconteceu me surpreendeu. 

Ele não tremeu, ele deu um passo para mais perto da câmera.  Nem gritava, tampouco reagiu.  Ele estava rindo através de aberturas irregulares em sua face, seus dentes eram brancos, sua voz se tornou mais alta e continuou a derramar lágrimas negras. Que escorria por seu rosto e que acabava escorrendo pelo meu também.

Eu grito, tremo e desesperado tento me livrar ... para escapar deste tormento infernal. Quando meus olhos se concentrar na tela, eu vejo que ele se foi. Uma lágrima de alívio desliza para baixo em minha bochecha. Junto ao meu ouvido que eu ouço um barulho crepitante e fumaça preta que parece se instalar acima de mim. Eu mudo o meu olhar em direção a fumaça, finalmente saindo do controle da tela.  E mais uma vez minhas lágrimas escorrem pela minha face silenciosamente.

Ele está de pé em cima de mim. Suas lágrimas mancha a face distorcida,  enquanto a escuridão espalham se por seus olhos e boca.

Agora vejo a verdade…

Estou no inferno, e não há salvação.

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