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segunda-feira, 8 de junho de 2015

Os Espíritos Dançantes


  Há alguns anos atrás, na Irlanda, as pessoas tinham medo de deixar suas casas na última noite de Novembro. Elas acreditavam que, naquela madrugada específica do ano, os mortos ergueriam-se de seus túmulos e avançariam sobre os vivos. Se você estivesse na rua naquela noite, eles diziam, e ouvisse passos atrás de você, você não deveria olhar para trás, porque os fantasmas estariam te seguindo e se você fizesse contato visual com eles, certamente morreria.


  Localizada bem no litoral da Irlanda, há uma ilhota que os locais chamam de "Ilha do Tubarão", apesar de que seu nome original em irlandês é "Inis Airc". Hoje em dia, ela está desabitada, mas há poucas décadas, havia pessoas que passavam suas vidas inteiras naquela pequena ilha e uma delas era uma garota chamada Kathleen.

  Em uma noite de novembro, Kathleen estava caminhando de volta para casa. A estrada era longa e ela se cansou de tanto andar, portanto decidiu sentar para descansar por um tempinho.

  Era uma noite fria e escura e o orvalho gélido provocava-lhe arrepios que percorriam sua espinha. Ela olhou em volta e percebeu que estava apoiada no muro de um cemitério de igreja. À luz da lua, as lápides assemelhavam-se a ossos brancos.

  Subitamente, ela viu uma figura surgir da escuridão. Ela teve de colocar a mão na boca para abafar um grito de surpresa que se formava. À medida que o vulto se aproximava, ela percebia que tratava-se de um jovem com pele clara e pálida.

  "Quem é você?", ela perguntou.

  "Dê uma boa olhada em mim", o garoto respondeu. "Você não me reconhece?"

  "Há algo familiar em você", Kathleen disse.

  "Olhe mais de perto", ele disse, deixando a lua iluminar seu rosto. "Agora você se lembra?"

  "Sim, eu te conheço...", ela gaguejou, com a voz reduzida a um sussurro aterrorizado. "Você é o Brian... Mas você... Você se afogou ano passado quando saiu para pescar... Como você pode estar aqui?"

  "Olha", ele disse, apontando para uma colina nas proximidades. "É por isso que eu estou aqui."

  Kathleen olhou e viu luzes mortiças do outro lado da colina, dançando como vaga-lumes em meio ao breu. Quando ela ousou se aproximar, viu que eram pessoas. Homens, mulheres e crianças, vestidos inteiramente de branco, com seus rostos pálidos e melancólicos como em uma procissão de funeral, todos dançando no ritmo da música de flautas invisíveis.

  Kathleen olhou mais de perto e viu uma garota que havia morrido no ano anterior, seguida por outro homem que ela conhecia e que havia falecido há muito tempo.  Para seu horror, ela reconheceu cada um deles. Todos os dançarinos, homens, mulheres e crianças, eram pessoas que haviam morrido naquela ilha, há tanto tempo quanto ela conseguia lembrar. A visão gelou-lhe até os ossos.

  Então, de repente, a música parou. Todos os rostos fantasmagóricos viraram-se em sua direção. Eles ergueram seus braços, estenderam as mãos cadavéricas e acenaram para que ela se unisse a eles. Suas expressões mudaram e tornaram-se hediondas, sorrisos maléficos espalhavam-se por suas faces.

  "Agora", o garoto disse, "corra por sua vida, pois se eles conseguirem te arrastar para a dança dos mortos, você jamais sairá."

  A garota assustada virou-se para correr, mas naquele momento, os espíritos flutuaram em sua direção e deram as mãos, formando um círculo ao seu redor. Eles jogaram suas cabeças para trás em uma gargalhada silenciosa e encararam-na com olhos que pareciam querer apossar-se dela e puxa-la para longe com eles.

  Kathleen ficou lá parada, tremendo, enquanto os mortos risonhos agrupavam-se em volta dela, girando cada vez mais rápido enquanto aproximavam-se mais e mais. Ela começou a sentir-se tonta enquanto os rostos pálidos tornavam-se um borrão de branco rodopiante e logo ela desmaiou e caiu pesadamente no chão de terra batida.

  Na manhã seguinte, Kathleen acordou em casa na sua própria cama. Quando ela não retornou na noite anterior, seu irmão havia ido atrás dela. Ele a encontrou deitada inconsciente dentro de um círculo de pedras na colina e trouxe-a para casa.

  A família de Kathleen reuniu-se em volta de sua cabeceira. Eles podiam ver que o rosto dela estava drenado de qualquer cor e ela estava fraca demais para mover-se. A pobre garota encontrava-se pálida e apática como os mortos. Eles chamaram um médico, que chegou o mais rápido que pôde. Ele tentou tudo o que podia para salva-la, mas não havia solução.

  Quando a lua surgiu naquela noite, sua família estava rezando ao seu lado quando ela começou a ouvir os sons lânguidos de uma música suave, flutuando junto à brisa.

  "Vocês estão ouvindo?", Kathleen perguntou fracamente. "O que significa?"

  A família foi até a janela para tentar ver quem tocava a música, mas não viram nada ao luar além dos campos desolados e vazios até onde a vista alcançava.

  Então, Kathleen sentou-se na cama e começou a gritar, "Mãe! Mãe! Os mortos estão vindo me buscar! Eles estão aqui! Eles estão aqui!"

  De repente, a música cessou e quando eles retornaram para a cabeceira de Kathleen, a garota estava morta.

  Lá fora, em meio à noite, ninguém viu a figura branca e pálida de uma jovem dançando em direção à colina iluminada pela luz da lua.

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