Quando eu tinha 17 anos, eu era uma ávida leitora de romances. Eu roubava os livros água-com-açúcar de minha mãe e me trancava no quarto apenas para absorver toda aquela maravilha clichê e dramática. Então, quando eu comecei a ter sonhos com um homem jovem e sensual em uma camisa branca e esvoaçante (daquelas que os galãs literários sempre usavam) e botas de cavalgada, fiquei extasiada.

  O nome dele era James e ele tinha aquele sotaque britânico e antiquado que eu não conseguiria nem descrever. Os sonhos surgiam naturalmente, ele aparecia uma vez por mês, às vezes duas. Aos poucos, foi se tornando mais frequente, entre uma ou duas vezes por semana.  Sempre começava da mesma forma, eu sonhava comigo mesma dormindo na cama e acordando para encontra-lo em pé no meu quarto.


  Seus olhos brilhavam em um tom de verde vibrante e ele ficava jogando seu cabelo despenteado para trás de uma maneira sexy. O que me deixou realmente obcecada era a forma como ele me olhava. Dava para sentir o desejo ardente, a devoção profunda direcionada a mim. Eu acordava pensando, "É essa a sensação de estar apaixonada".

  Ele sempre se aproximava de maneira lenta e hesitante para ter certeza de que eu não estava assustada. Em seguida ele me diria o quanto eu estava linda e me chamaria para dançar. Música começaria a tocar do nada e eu olharia para baixo e me veria em uma bela camisola rendada com flores em meu cabelo e nós bailaríamos à luz da lua (dá para ver como uma menina de 17 anos enlouqueceria com isso?). Eu ficava tão ansiosa para ir para a cama que às vezes me forçava a dormir às 19:00 apenas para vê-lo.

  Enquanto isso, as coisas em minha vida de acordada passavam a ficar cada vez mais estranhas. Meu rádio começava a tocar no meio da noite, no volume máximo, acordando todo mundo. Enquanto eu fazia o dever de casa em minha escrivaninha, eu continuamente via algo pelo canto do olho.

  Uma vez, quando nos encontrávamos sozinhas em casa, eu e minhas melhores amigas estávamos todas juntas em cima de minha cama, comendo biscoitos e assistindo à reprise de Friends quando ouvimos uma voz masculina vinda do banheiro, que ficava no fim do corredor onde meu quarto estava. Inicialmente, não achamos nada estranho. Talvez meu pai tivesse voltado mais cedo do que o esperado, ou meu irmão. Nós éramos uma família de cinco pessoas com a porta sempre aberta para amigos. Raramente ficávamos sozinhos.

  Mas a voz continuava falando e falando, até que, finalmente, uma de minhas amigas perguntou quem estava lá. Eu deixei a tv no mudo e ficamos todas ouvindo até que percebi: a voz tinha um sotaque britânico. Eu senti um terrível calafrio percorrendo minha espinha e gritei, "James?!" e, de repente, a voz parou. Depois, eu contei às minhas amigas sobre meus sonhos e elas empalideceram.

  Mais duas noites se passaram e eu voltei a ter aquele mesmo sonho. Eu dancei com James, mas a energia era diferente. Ele segurava meu braço com mais firmeza do que o normal e passava o tempo inteiro sussurrando no meu ouvido, "Você é minha e ninguém mais pode te ter."

  Na semana seguinte, implorei à minha mãe para que ele me deixasse sair daquele quarto e ir dormir no andar de cima (meu quarto ficava no porão). Minha irmã trocou de lugar comigo e ficou lá por anos. Meus sonhos se foram.

  Há pouco mais de um ano, eu e minha irmã estávamos ajudando minha mãe a arrumar o quarto para que ela pudesse transformá-lo em seu próprio escritório. Nós estávamos pegando os objetos espalhados quando do nada ela começou a rir e disse, "James não vai gostar disso."

  Eu nunca havia me sentido tão aterrorizada ou nauseada ou com frio em toda a minha vida.

  "O que você disse?"

  Ela pareceu envergonhada, e fez um gesto com a mão para que eu esquecesse antes de voltar a carregar as caixas.

  "James, o homem inglês que dança?", eu voltei a perguntar.

  Ela assentiu.

  "Ele não é um cara legal."