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domingo, 1 de novembro de 2015

A boneca e sua menina



Feliz Halloween/Samhain/Dia do Saci (atrasado)!

  Vou contar uma história sobre uma menina e sua boneca. Eu sei o que você está pensando: Você já assistiu esse filme. Uma garotinha pede uma boneca, alguém dá de presente a ela e então o brinquedo ganha vida própria e sai matando todo mundo! Bem, você está errado. Esta história é diferente.

  Aconteceu em 2009, quando eu tinha 16 anos. Um dia, quando eu estava voltando da escola, eu percebi que uma nova família havia se mudado para a casa no final da minha rua. Era um jovem casal com uma filhinha que aparentava ter cerca de 6 anos.

  Ela usava um vestido branco com meias combinando e sapatos pretos. Seu cabelo era longo e negro e ela trazia uma boneca nos braços. A boneca também tinha o cabelo escuro e um vestido igual. Na verdade, ela parecia exatamente uma versão em miniatura da menina.

  A partir daí, todo dia, em meu caminho de volta, eu via a garotinha. Ela estava sempre sentada do lado de fora da casa, embalando a boneca e me encarando enquanto eu passava. Havia algo na maneira como ela me olhava e na expressão fria e obscura de seus olhos que me deixava realmente nervosa.

  E durante a noite, eu não conseguia dormir. Eu comecei a ser assombrada por sonhos muito estranhos que me faziam acordar suando frio. Eu só conseguia lembrar vagamente do que acontecia neles, mas todos envolviam a menina e sua boneca. Isso continuou por noite após noite e a falta de sono me deixava sempre exausta.

  Havia uma mulher idosa que morava na casa vizinha. Ela era muito inquisitiva; uma dessas senhoras que parecem saber tudo sobre todo mundo. Ela estava sempre espiando e metendo o nariz nos assuntos dos outros. Certo dia ela agarrou meu braço e, apressadamente, me disse que precisava me contar algo.

  Ela queria me falar sobre a família recém-chegada. "Você não quer se envolver com eles", ela me avisou. "Eles não são boas pessoas, eu soube que eles estão sempre se mudando e nunca ficam por muito tempo no mesmo lugar. E aquela filha deles... Sabia que ela é adotada? Ela tem uns parafusos a menos, também. Ouvi rumores de que ela é cria do diabo e aquela boneca que ela tem não é nenhum brinquedo, mas um demônio feito à imagem dela..."

  Eu apenas revirei meus olhos e fui embora, desprezando aquilo como uma fofoca sem sentido vinda de uma velha louca e supersticiosa. Mas, como eu era idiota. Como eu gostaria de ter dado ouvidos àqueles avisos.

  Alguns dias depois, bateram na nossa porta da frente. Quando eu atendi, me deparei com uma jovem mulher. Era a mãe da menina da boneca.

  "Olá", disse ela, "sou sua vizinha e gostaria de te pedir um favor."

  "Tudo bem", respondi. "O que é?"

  "Houve um imprevisto. Preciso sair da cidade por um tempo e meu marido trabalha até tarde. Eu estarei fora por apenas algumas horas, mas preciso de alguém para cuidar da minha filha enquanto isso. Eu sei que é muito em cima da hora, mas você se importaria em ficar com ela?"

  "Claro que não. Qual é o nome da sua filha?"

  "Lisa", a mãe revelou. "Preciso sair agora, então se não for muito incômodo..."

  Eu segui a mulher até sua casa e esperei enquanto ela corria até o andar de cima. Quando ela voltou, estava trazendo uma garotinha pela mão. Assim que eu a vi, recuei. Havia algo de errado com ela.

  Seus olhos eram completamente negros, como os de um tubarão e ela ainda estava espremendo aquela maldita boneca nos braços. Eu não sei o que havia naquela boneca que me assustou tanto. Talvez fosse porque ela era tão parecida com a menina que chegava a ser perturbador e inquietante.

  Antes que eu tivesse a chance de voltar atrás, a mãe se despediu, entrou no carro e foi embora. Sem nenhuma palavra, a pequena Lisa se inclinou e pegou minha mão. Sua pele era gelada ao toque e fez um calafrio percorrer minha espinha.

  "Brinque comigo", disse ela.

  Nós subimos até o quarto dela, mas assim que eu fechei a porta, comecei a me sentir desconfortável. Eu detectava um cheiro estranho e desagradável no quarto, mas não conseguia definir o que era nem de onde vinha.

  Brinquei com Lisa por cerca de meia hora, até que, de repente, comecei a sentir uma pressão no peito. Passei a suar frio e meu estômago revirava. Parecia que eu ia vomitar.

  "Preciso ir", ofeguei.

  Subitamente, Lisa pulou e gritou, "Não! Você vai ficar comigo para sempre! E nós vamos continuar brincando!"

  Ela me encarou com aquele olhos escuros e sombrios e eu senti como se fosse desmaiar. Eu estava aterrorizada e queria sair daquele quarto, mas quando tentei abrir a porta, a maçaneta não girava. Comecei a puxar de todas as formas, mas nada acontecia. Corri até a janela e forcei, mas ela também não abria. Não importava o quanto tentasse, eu não conseguia sair.

  Então me lembrei do aviso da senhora e xinguei a mim mesma por não ter levado a sério. Mesmo tremendo de medo, decidi rezar.

  "Pai Nosso que estás no céu, santificado seja vosso nome..."

  Assim que murmurei essas palavras, a menina soltou um guincho de romper os tímpanos. Ela gritou tão alto que eu pensei que fosse ficar surda e protegi os ouvidos com as mãos, mas não parei de rezar.

  "Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade..."

  A menina largou a boneca, que caiu no chão. Do nada, esta ganhou vida e veio até mim, rangendo os dentes e arranhando o ar com suas mãos de garras como um animal feroz. Tentei chuta-la para longe, mas ela pulou em meu pescoço como se fosse rasgar minha garganta.

  Eu caí de costas em cima da cama, desesperadamente tentando me livrar da boneca. Foi uma luta terrível. A boneca avançava, me enchendo de cortes e transformando minhas roupas em trapos. Sempre que suas mãos alcançavam meu pescoço, ela começava a me esganar.

  Eventualmente, consegui domina-la. Eu a agarrei pelas pernas e a girei com toda a minha força, esmagando sua cabeça contra uma parede. O impacto foi tão forte que deixou uma rombo na argamassa. Uma rachadura rompeu o crânio da boneca em dois, e uma fumaça escura e grossa começou a sair.

  "...assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido."

  A boneca desabou no chão, tremendo e se contorcendo, espasmando para frente e para trás como um peixe fora d'água. A cabeça abriu ainda mais e a fumaça foi ficando cada vez mais grossa.

  "E não nos deixe cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém!"

  Quando terminei de recitar a oração, Lisa estava caída inconsciente no meio do quarto, e a boneca era pouco mais do que um monte de plástico derretido, chiando e borbulhando no carpete.

  Neste momento, a mãe de Lisa entrou no quarto. Ela correu escada acima e bateu a porta, exigindo saber o que havia acontecido. Eu tentei explicar, mas não conseguia formular as palavras. Vomitei no chão inteiro.

  Quando Lisa recuperou os sentidos, ela disse que não lembrava de nada, absolutamente nada. Eu olhei em seus olhos. A escuridão havia sumido e agora eles eram de um tom de azul brilhante.

  Três anos depois, aos 9 anos de idade, Lisa morreu de repente. Ela bebeu uma garrafa inteira de água sanitária e isso corroeu suas entranhas. Ela sofreu muito, gritando e chorando de agonia enquanto seus órgãos atrofiavam e dissolviam. Os médicos disseram ter sido um acidente, mas todos suspeitavam de que ela havia se suicidado. Os pais ficaram devastados. Ninguém conseguia explicar porque uma garotinha faria uma coisa dessas.

  Uma semana após o funeral, mãe e pai se mudaram da casa. Havia memórias demais nela. Enquanto limpavam o quarto de Lisa e reuniam seus pertences, eles encontraram algo preso na parte de trás do espelho. Era uma fotografia da boneca e sua menina.

  Do outro lado, rabiscado em caligrafia infantil, estava escrito: "Ela retornou para nós, pois aqueles que ouvirem nosso chamado estarão condenados para todo o sempre!"

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