Você me daria o seu coração? Eu te daria o meu sem pensar duas vezes, se assim pudesse o provar o amor que sinto. Ele já é todo seu. Você poderia simplesmente toma-lo.

  Quando me apaixonei por você, ainda nos tempos de colégio, nunca imaginei que seria capaz de me dar seu coração. Afinal, eu era uma perfeita anormal, sempre com um capuz preto cobrindo meu rosto cheio de espinhas. Você era linda. E cruel. Era uma dessas que trocam de namorado na mesma velocidade em que trocam de roupa. Na verdade, diziam que você simplesmente não tinha coração. Mas eu sabia que tinha. Podia quase senti-lo pulsando, nas raras vezes em que você olhava para mim com seus grandes olhos azuis. Porém, eu sabia que ele jamais seria meu. Não até que eu arranjasse alguma forma de chamar sua atenção.

  Deixei um bilhete para você, escrito em tinta vermelha: "A razão pela qual você descarta todos os seus namoradinhos é bem clara: Você prefere meninas." Sabia que isso te deixaria furiosa e faria com que você viesse atrás de mim. Tanto que assinei meu nome, em letras maiúsculas. Venha até mim. Seja minha.

  Certo dia, você me encurralou em um corredor deserto, tentando me intimidar. Estava segurando uma faca. Péssima ideia... Com certeza não sabia o quanto eu era forte. Arranquei a faca de sua mão e a atirei longe, em seguida envolvi sua cintura e a puxei para perto de mim. Você estava tremendo. Mas não achei que fosse de medo.

  - Não precisa ser assim. - Sussurrei em seu ouvido, lambendo-a de leve para fazê-la tremer mais.

  - O-o que você quer? Destruir minha vida? - Você gaguejou, paralisada demais até para tentar se livrar.

  - Não. Sou capaz de destruir sua vida no sentido mais literal, mas só se você me magoar. Não estou querendo revelar seu segredo. Na verdade... Ele pode ficar apenas entre nós duas.

  Você arregalou os olhos, e isso, combinado com sua respiração entrecortada, a deixava ainda mais linda.

  - Quer dizer que...?

  Sim. Inicialmente você só iria ficar comigo por medo, mas aos poucos esse medo se transformaria em amor. Tinha certeza. Passamos a nos encontrar toda noite, sempre no mesmo corredor mal iluminado. Quando eu te tocava, você não resistia nem gritava, apenas tremia. Fiz você jurar por sua vida... Jurar que sempre seria minha.

  Era impossível me afastar de você. Então eu comecei a te perseguir, sempre oculta nas sombras. Quando você percebia, era apenas como um vulto passando rapidamente pelo canto de seus olhos. Ou uma mão te acariciando no escuro.

  E foi assim, te observando, que eu descobri. Você estava me traindo. Com um homem. E para ele, você não tremia... Se entregava completamente como nunca havia feito comigo. Meu coração era seu, e você o rasgou ao meio, fazendo-me sangrar. Nada mais justo do que eu poder ver o seu sangue jorrando também.

  Eu sei onde você mora, então foi fácil escalar a janela de seu quarto e entrar, quebrando o vidro para desperta-la. A escuridão é absoluta, mas ainda assim eu posso vê-la sentada na cama. Sorrateiramente, deito em cima de você, imobilizando-a em um abraço. Você nem reage, pois agora sabe o quanto sou forte e impiedosa. Quer apenas que tudo acabe rápido.

  - Me dê seu coração. - Murmuro, beijando-a uma última vez.

  Você cerra as pálpebras trêmulas.

  - Ele sempre foi seu.

  Basta um único corte profundo. Eu enfio a mão através de sua carne, tão quente e úmida, até encontrar o que estou procurando, então arranco. Finalmente. Seu coração, ainda pulsando, ainda vertendo sangue, e todo meu.