Encontrar o Pai...
- Publicado por:
- Alan Cruz
Levei muito tempo para descobrir o que o meu pai era. Lembrando do passado, agora parece tão óbvio, mas, novamente, eu nunca imaginaria isso. Meu pai sempre me deixava só enquanto fazia suas viagens de negócio. Ele ia para todo lugar do país, além de ter uma grande lista com nomes das cidades por onde passou. Eu sempre achei que ele era um vendedor ambulante, até o dia em que fui com ele.
Claro, ele não me levou ao local com ele, mas me deixou em um motel no meio da noite e me disse que pela manhã retornaria. Ficamos naquela cidade por cerca de uma semana. Eu devia ter não mais do que treze anos naquela época.
Uma noite, eu estava deitada na cama quando o ouvi chegar. Ele caiu na cama e dormiu, deixando uma mochila que trouxe com ele no chão. Eu nunca deveria ter olhado o que tinha dentro dela, mas vi. Eu estava tão curiosa, eu queria estar ligada ao meu pai, queria conhecê-lo melhor. Saí da minha cama silenciosamente. Era como se algo naquela mochila me intimidasse a ver. Caminhei em sua direção, a tomei em minhas mãos e a abri. Eu nunca entendi o que era aquilo lá dentro, tudo o que sei é que, se eu pensar sobre isso, minha cabeça começa a doer. Num piscar de olhos meu corpo estava jogado no chão e meu pai em cima de mim. Ele estava pálido e assustado. Eu nunca tinha o visto daquele jeito. Ele me deu um lenço de papel e me disse para limpar a boca. O fiz. O tecido ficou vermelho, eu nem sabia que eu estava sangrando. Naquela noite não voltamos a dormir, fomos direto para casa e ele nunca mais me levou junto em suas viagens.
Alguns anos mais depois, eu estava em meu quarto, desci até a cozinha para beber um copo d'água quando escutei meu pai falando ao telefone na sala, ele dizia coisas como: "Você não pode, ele vai encontrá-lo", e: "Eles já sabem. Eles sempre souberam". Mas em nenhum ponto da conversa o ouvi mencionar algum nome. Em um momento da conversa ouvi: "Por que você acha que iria trabalhar? O acidente com o objeto não foi culpa minha...".
Uma semana depois, eu comecei a pesquisar. Quanto mais eu procurava, mais me assustava, e, quanto mais assustada, mais interessada e intrigada eu ficava. Meu pai descobriu. Ele não disse nada sobre isso. Ele simplesmente parou de falar comigo. Naquele verão ele saiu novamente, mas, desta vez, nunca mais voltou.
Eu então assumi que ele havia morrido e segui em frente com minha vida. Eu tentei parar de pensar sobre os Portadores e os Objetos, mas acho que isso de alguma forma entrou na raiz de minha mente. Um dia, fui até uma instituição para doentes mentais em uma cidade que eu estava visitando, apenas para verificar, ou pelo menos foi o que disse para mim mesma.
Caminhei até a moça que estava trás do balcão e pedi para visitar "A Portadora da Inocência". Parecia que a moça estava prestes a chorar, até que uma unica lágrima escorreu em seu rosto. Eu corri para fora daquele lugar e nunca mais voltei. Nem mesmo voltei para aquela cidade. Eu jurei parar de buscar sobre o assunto e decidi continuar a seguir com minha vida. Até que recebi um telefonema. Era de meu pai, ele me disse que estava morrendo e que esta seria a última vez em que eu poderia vê-lo. Como eu poderia negar-lhe a chance?
Fui até ele. O velho estava sozinho no quarto do hospital, sentei-me ao seu lado. Ele não parecia mal, na verdade, aparentava estar muito bem. Me senti nervosa e perguntei o porque de ter me chamado até ali. Ele pediu desculpas para mim, por me ter feito vir até aqui, ele me disse que eu nunca conseguiria parar de procurar os Objetos, e que eu não devia ter me envolvido com isso. Fiz a ele uma unica pergunta, uma pergunta que estava me incomodando há tempos.
Perguntei a ele o porque dele ter começado sua busca pelos objetos. Ele sorriu, abriu a gaveta ao seu lado e dela tirou um pergaminho. Ele me entregou dizendo que eu era a única que poderia impedi-los. Eu pensei em perguntar a quem ele se referia mas não o fiz. O pergaminho estava coberto de símbolos estranhos, parecendo um texto. Eu não poderia ler, não reconhecia aqueles símbolos. Deve ser a língua dos Portadores, disse a mim mesmo.
Perguntei a meu pai o porque de me dar aquele pergaminho, ele me disse que estava indo embora. "Morrer?" Eu perguntei. Ele balançou a cabeça e me disse que a morte seria melhor, mas que ele não poderia deixar que os obtenham, então, ele os protegeria da única forma que poderia. Foi quando eu vi. Atrás do vaso de flores na mesa ao lado dele. Aquela mochila. Olhei para meu pai. Ele me disse que protegeria os outros, esta era a única forma. Eu olhei firme para seu rosto, essa foi a única vez que vi meu pai chorar.
Três dias depois, enquanto eu lia o jornal, vi uma notícia sobre a queda de energia no hospital em que meu pai estava. Eu liguei para saber noticias dele, mas, fui surpreendida quando me disseram que meu pai não estava mais lá, e que fizeram uma busca mas não o encontraram. Mas eu sabia, eu sabia o porque dele não estar mais lá...
Hoje eu tentarei obter o Martelo e o Rifle. Se eu continuar viva, darei continuidade a minha busca pelos objetos, até que eu tenha o suficiente, então, eu vou voltar e encontrar o meu pai. Ou pelo menos o que era meu pai. Ele é um Portador agora, e ele tem um novo nome...
[A história continua em: Sorria]
Eu tive a ideia de começar a escrever isso, apenas por diversão. Exatamente a mesma história, mudei apenas o portador que o pai virou e que era um filho. E eu pensei em fazer isso um dia antes de você postar isso. Cara... O seu ficou muito melhor!
ResponderExcluirObrigado! Estou feliz que tenha gostado. Lembrando que, esta é uma série, em breve novos capitulos serão lançados!
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