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quarta-feira, 1 de abril de 2015

The Holder Series - 138 - O Portador da Negação


Eu trabalhei em casas de repouso ou instituições mentais em todo o país, várias cidades, vários estados. O trabalho não é ruim e o pagamento é melhor do que muito emprego que já tive. Tentei ser uma boa garota, sem gentil e bondosa com os outros, porém meu trabalho me afetou. Para ajudar pessoas doentes você precisa ter um coração calejado  e aceitar verdades indesejáveis sobre as pessoas. Aceitar que alguns viciados não vão se tornar limpos. O que parece compaixão é na verdade uma ilusão de sua loucura e que algumas pessoas precisam ser amarradas para seu próprio bem.


Eu não vou falar o local e nem o nome da instituição que trabalho agora, somente que estou aqui a um bom tempo. Quando eu fui contratada o pagamento era pouco e as horas também eram poucas, e eu não estava na posição de reclamar. Eu estava trabalhando na recepção a umas duas semanas, quando um homem entrou com um propósito e veio até minha mesa e pediu para ver o Portador da Negação. Um olhar de confusão deve ter vindo a minha cara pois ele estava impaciente, ele gritou bateu os punhos na minha mesa e insistiu em ver o Portador da Negação. Eu ainda tentava acalma-lo quando meu supervisor veio até nós. O Sr. Musil deu uma olhada para o homem e ele ficou em silencio e disse "está tudo bem", e levou o homem por um corredor que eu devo ter passado umas cem vezes e nunca notei. O homem olhou de volta para mim com um sorriso estranho. Eu o encarei, não havia desculpas para uma grosseria daquela, eu estava irritada por ele ter se acalmado tão rapidamente com meu supervisor. Me fez parecer incompetente.

Muitos vieram depois dele, todos pedindo para verem o portador da Negação, todos fazendo escândalos e gritando e somente se acalmando quando o Sr. Musil chegava para leva-los. Eu segui eles uma ou duas vezes, de curiosidade, somente para ver o que eles estavam fazendo. Cada vez o Sr. Musil os levava através de uma porta os trancava la dentro e ia embora. Ele sorria para mim cada vez que passava ao meu lado. Uma vez ele esqueceu a chave na porta e eu quase a abri. Porém quando minha mão tocou na chave eu tive uma sensação de culpa e uma reviravolta em meu estomago como se eu soubesse do problema que isso traria e que seria castigada pois seria somente minha culpa. Eu tirei a chave e devolvi para a mesa do Sr. Musil. Ele tinha saído cedo.

Foi somente no dia seguinte que eu soube o que aconteceu. Que ele atirou seu carro com esposa e filho de uma ponte. As janelas estavam abaixadas os cintos afivelados é como se nenhum deles tivesse tentado sair do carro. Eles ficaram sentados ali enquanto uma água de rio suja vinha e os afogava.

Na próxima vez que alguém veio procurando o Portador eu me escondi. Eu não iria suportar alguém gritando comigo de novo, então eu corri e me escondi em um quartinho e torci para a gravida de olhos vermelhos fosse embora e procurasse o Portador em outro lugar. Ela estava gritando a 8 minutos já, então fui até a mesa do Sr. Musil e achei a chave que deixei lá. Eu a levei até a porta no fim do corredor sem a menor sensação estranha. Mesmo assim imaginei se ele tinha o habito de voltar mais tarde e soltar quem ele tinha trancado la dentro, ele sempre trancava a porta então ninguém saia por conta própria, então deveria ter outra saída. Era a explicação mais razoável.

Eu não me preocupei.

Depois da gravida, a próxima pessoa a perguntar pelo portador foi um jovem rapaz que começou a gritar, então eu lhe cortei falando: "Eu só vou te levar se você pedir educadamente e parar de gritar". Ele olhou para os lados e perguntou novamente num tom mais civilizado. ele tremia enquanto eu o levava a porta, igual os próximos que pediram para ver o portador. Todos perdidos nas palavras que eles não esperavam.

Então desse dia em diante eu tomei conta dos determinados a encontrarem o Portador. A maioria era homem porém existiam várias mulheres, A maioria assutados com olhos vagos e alguns que nem sorriam esses me assustavam. Levei de gente bem arrumada com ternos até pessoas mal vestidas. Levei gente com cicatriz, com tatuagem, com barba, com sorrisos pequenos, brancos, negros, com veias grossas saltando de seus pescoços, mais nenhum voltou. Sentia um carinho pelas pessoas solitárias que ali entravam. Com eles eu me sentia uma mãe colocando uma criança doente para dormir. Os arrogantes e com olhos cruéis eu colocava para dentro rindo sentindo por dento uma sensação de satisfação. Pela minha vida, eu não conseguia explicar o que era; afinal todos deveriam entrar pela porta, não é?

Eu falo como se entrasse pessoas todos os dias, mais é só porque foi acumulando ao longo dos anos. Na verdade eles chegam ocasionalmente e aleatoriamente. As vezes se passam meses até alguém aparecer e acabam vindo dois no mesmo dia, somente algumas horas entre um e outro. Eu só vi muitos pois estou aqui a muito tempo. Os maus hábitos me empeiam de manter um emprego: distração, atrasos,minha tendencia de sair pelos fundos e acender baseados que levavam a mais atrasos... mas isso não importava desde que eu continuasse levando as pessoas até a porta do Portador. Pessoas ao meu meu redor começaram a me olhar da mesma maneira que eu olhava para o Sr Musil.

Mais e mais eu sentia uma duvida. Eu me perguntava se existia um segundo andar e se existia uma saída daquele quarto? Eu nunca via nada alem de escuridão la dentro nada mais do que uma olhada acidental de segundos. Quão grande o quarto pode ser? Todas aquelas pessoas entrando e jamais saindo já deve estar começando a ficar lotado la dentro. Seria melhor se menos pessoas tivessem entrado lá. Perto do tempo que comecei a ter esses pensamentos eu reparei em um botão em baixo de minha mesa, eu não sei se aquilo estava ali antes, um botão de cor âmbar, se eu apertasse quando alguém viesse as luzes do quarto piscavam e ficavam brilhantes. Enquanto eu estava cega eu sentia algo suave se movendo e cheirava a algo sujo, e quando as luzes retornavam ao normal a pessoa sempre tinha ido embora as vezes deixavam uma lagrima no carpete ou uma mancha escura que eu tinha que limpar mais agora não precisava levar todos para o fim do corredor.

Eu apertava o botão para quem não tinha aprendido o valor da educação ou de quem não pedia educadamente. Quando via algo desdenhoso nos olhos da pessoa eu apertava o botão tão forte a fim de rasgar a pele da minha mão. Eu comecei ter conforto na luz que limpava e nos gritos abafados que soavam como musica. Eu usava qualquer desculpa para apertar o botão e não mandar uma pessoa ao Portador no fim do corredor. Mesmo assim os que eu mandava nunca retornavam.

Até um dia que um homem retornou. Eu não gostei dele do momento que ele entrou, com seu terno bem arrumado um sorriso e olhos bem vazios. Eu ia apertar o botão antes dele chegar a mesa porém algo me parou. Ele me perguntou bem educadamente se ele poderia ver o Portador da Negação. Algumas pessoas vão ao Portador com um medo visível, outros escondem e uma pequena minoria consegue ignorar o medo. Porém esse homem não tinha medo nenhum como se a história não fosse ter um fim. Isso me deu um medo. Eu estava aliviada de mandar ele pela porta, ele me deu um sorriso de ponta a ponta bem largo e uma piscada e desapareceu na escuridão.  Eu o tranquei e fui lá fora fumar até eu me relaxar para voltar, e voltei a minha mesa e fingi estar ocupada com alguma papelada. Eu ouvi passos no corredor e o homem com os olhos vazios saiu. Ele estava carregando algo em suas mãos. Algo coberto de cabelo ou feito de cabelo, longos tufos de cabelo molhado escorriam entre seus dedos. Eu tentei apertar o botão que iria trazer a limpeza, a luz branca, que era pura e ia cobrir sua impureza. Ele me impediu. Ele moveu mais rápido que os meus olhos e me parou, mantendo minhas mãos junto às suas, mantendo um sorriso diabólico e estalando a língua. Seu sorriso estava tão aberto que tinha certeza q iria me engolir.


Aterrorizada eu perguntei somente uma coisa: "o que você está fazendo comigo ?"

Eu achei que ele ia me matar. O que ele fez foi muito pior, ele me explicou coisas. Ele me contou o que aconteceu com cada pessoa q eu enviei pela porta. Me contou em detalhes os testes que eles falharam e as torturas que cada um sofreu. Ele me contou o que aconteceu com cada um embaixo da luz branca que me impedia de ver as coisas que aconteciam, as coisas que as rasgavam em pedaços e as levavam pelos filamentos quentes de cada lâmpada. Ele me falou das coisas que eu ajudei a guardar e as coisas que me ajudaram a guardar. Ele me fez ver o que eu fiz.

Ele foi embora, eu não.

Muitos ainda vem perguntar sobre o Portador, alguns eu levo para a porta outros eu aperto o botão eu não sei se tem algo para ser procurado. Mas ninguém conseguiu voltar. Eu tento ser uma boa garota e ser educada com os outros, mais meu trabalho me afetou para ficar sã e saudável, você deve ter um coração frio para certas verdades sobre você, manter seus pensamentos quietos para seu próprio bem.

Triquinobezoar* que o homem carregou é o objeto 138 de 538.

"E eu sou o último dos testes que precisa enfrentar para achá-lo"

Revisado por: Shadow

*N.T (Nota do Tradutor) A unica informação que encontrei sobre o que é o objeto deste Portador foi essa: "Triquinobezoar consiste de um bolo de fios de cabelos retirados do estômago."

2 comentários:

  1. De longe o conto mais estranho e confuso dos portadores até então, mas ainda assim daora haha. Interessante a própria recepcionista funcionar para alguns como um obstáculo ao acesso do Portador da Negação ao invés de levar o candidato até ele, ou talvez ela mesma seja a Portadora da Negação.

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  2. imagina, eu andando na rua com um Triquinobezoar na mão... que loucura

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