O Pesadelo Eterno - Nathalie (Sayaka)
- Publicado por:
- iKamui
Eu estava num cemitério. Todas as covas estavam abertas. Os carvalhos estavam secos e sem vida. Uma névoa espessa cobria tudo. Estava escuro, mal dava para enxergar algo na minha frente, apenas o brilho azulado dos espectros vagando pelo cemitério, as vozes me avisando: "Nathalie, não.".
Mas eu não estava com medo.
Eu nunca tive medo de nada na vida. Nem quando minha mãe foi assassinada num beco, comigo olhando aquele estranho a esfaqueando, eu tinha só cinco anos, mas eu não tive medo. Nem quando meu pai me largou num beco, no mesmo beco que minha mãe foi assassinada, meu pai me deixou lá para morrer, eu tinha só oito anos, não tive medo. Bom, é certo que eu liguei para a minha avó e ela me encontrou e me adotou, mas mesmo assim nunca tive medo. Não seria agora que eu teria.
Continuei andando ás cegas. Não sabia o que viria, mas senti a aflição dos fantasmas.
Por fim, cheguei a um lugar no meio do cemitério, onde a névoa se dissipava e três criaturas conversavam. Uma era alta e esguia, um homem. Outra era uma mulher de cabelos negros lisos e longos, com um capuz e um rosto desfigurado. (Shtriga) A outra era mais como uma sombra, nada mais que uma sombra. (Daevas, no plural. Não sei como é no singular)
Sabia que eles eram do mal, e que se eu me aproximasse mais, provavelmente morreria. E eles pareciam falar de algo importante.
Então, é claro, me aproximei mais e me escondi para ouvir.
A figura alta e esguia virou-se para a mulher de capuz e disse:
- Apenas aqueles seis idiotas podem nos parar, e eles nem sabem quem são ou quem nós somos. Então pra que raios a gente deveria se importar?
A mulher de capuz respondeu:
- Aquele garoto, Mateus, ele está acordando. A garota, Nathalie, também. Se eles se encontrarem e descobrirem, as consequências serão desastrosas. Realmente acha que devemos ignorar?
- O que crianças sozinhas podem fazer contra nós? Ainda se eles se unissem aos outros dois, até poderiam ter uma chance, mas duas crianças? Por favor. - Rebateu a figura sombra.
- A garota é mais poderosa do que imaginamos. - opinou a mulher. - afinal, ela descende dos...
- Calem a boca! - A figura esguia disse em uma voz poderosa. - sinto uma presença.
Congelei e fiquei imóvel.
A mulher começou a rir.
- Ah, Nathalie, Nathalie, minha doce Nathalie. Subestimei seus talentos. Levante-se! - ela gritou.
Não estava com medo, então me levantei.
- Que lindos olhos verdes. - ela disse. - tão verdes, Nathalie. Verdes como uma folha de um carvalho. Que pena que terei de arrancá-los.
No instante seguinte, ela pulou em cima de mim.
Acordei, mas não gritando. Como eu já disse, não tenho medo de nada. Mas, como estava tudo escuro no meu quarto, só um breu, coloquei a mão sobre meus olhos, para me certificar de que ainda estavam ali. Meus "lindos olhos verdes", foi como aquela mulher os descreveu. Por um minuto, quase os senti sendo arrancados. Respirei fundo, me lembrando que foi só um sonho. Um pesadelo, na verdade, mas não foi real.
Virei-me em minha cama e vi números azuis brilhantes marcando o horário: 5:02. Respirei fundo novamente. Que sonho estranho. Do que aqueles monstros estavam falando sobre eu e aquele tal Mateus estarmos "acordando"? E o que aquela sombra quis dizer com "ela descende dos.."? Eu descendo do quê? Só sei que toda a minha família é italiana, além disso...
Levantei-me e fui até a cozinha. Abri a geladeira e belisquei uma bruschetta, um pãozinho italiano complicado de descrever. Continuava pensando no sonho, fora tão real... eu sei que era só um sonho e nada mais, mas mesmo assim...
Bebi o suco de uva que mal tinha percebido que estava em minha mão. De um único gole, bebi tudo. Voltei para cama, obviamente, pensando no sonho.
Acordei logo que o relógio bateu ás 17h00. É sábado, eu adoro dormir, então não me julguem. Fui direto para o laptop. Bocejei de sono, mas tinha que começar logo a fazer aquele trabalho de História. Nem tenho ideia de como começar...
Bocejei de novo e comecei a pesquisar sobre druidas, parte da tribo dos celtas. Comecei a ler. Vi que eles eram tipo bruxos lá pra época da Inquisição. Achei legal. Acho que farei sobre eles.
Porém, enquanto eu lia, começava a sentir um aperto na garganta, alguma coisa parecia querer escapar de dentro de mim. Era estranho.
Minha avó apareceu por trás de mim e disse:
- Não precisa disso, Nathalie. Eu posso lhe contar tudo o que quiser saber sobre os druidas.
- Sério? - perguntei, confusa. - como?
- Eu nunca lhe contei, querida? Nós descendemos dos druidas há eras.
- Descendemos? - fiquei interessada. - Fale mais, vó.
E então ela começou a me contar sobre como nós éramos poderosos como druidas. Druidas Filid, descendentes diretos dos cosmos. Era a mais alta classe dos druidas, a sua função era o contato direto com o cosmos. Aos Druidas Filid eram concedidos os poderes de sacerdote, juiz, curandeiro, conselheiro e poeta/cantor. Sua evolução permeando os estágios iniciáticos de um Druida para que chegasse à 1ª classe como um mago branco, consistia em duras provas de vida e morte, onde acreditava-se o Sacerdote morria e renascia varias vezes ao longo dos anos e provas por que passava. Não se acreditava que morressem, pois tinham uma consciência de morte como passagem para o estágio seguinte da evolução. Sendo o Druida Filid aquele que não mais voltaria a encarnar, já que se tornaria um ancestral divinizado que intercederia pelos "vivos" ativando a energia Cósmica.
- Ah, querida, dizem que os poderes druidas encarnam de 3 em 3 gerações. De acordo com meus cálculos, acho que os poderes devem encarnar em você. - acrescentou minha avó.
- Vovó, isso é só um monte de superstições. Eu não sou sobrenatural. - declarei rindo.
Fiquei o dia todo fazendo o trabalho. O relógio batia meia-noite quando fui dormir. Estava muito cansada, mas uma coisa despertou a minha memória. A sombra no sonho.
- "A garota é mais poderosa do que imaginamos. Afinal, ela descende dos..." Não era isso que ele havia dito? E hoje minha avó dissera que nossa família descendia dos druidas. E que os poderes deveriam encarnar em mim. Além disso, eles mencionaram uma criança que está despertando, e outros dois...
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