Kill Me - Capítulo 3: "Apenas uma Escapulida"
- Publicado por:
- Laura Tude
O quarto de Lilith era surpreendentemente organizado e
aconchegante. Ela não dormia em um caixão, e tinha providenciado para si uma TV
de tela plana e um notebook. Era um cômodo espaçoso, pintado com cores alegres
e não parecia fazer parte daquela mansão mal-assombrada de filme de terror,
exceto pelo fato de que a janela era bloqueada por fita adesiva preta e o
quarto era iluminado apenas por velas perfumadas espalhadas por todos os
cantos.
Caleb tinha seu próprio quarto mas passava a maior parte do
tempo lá, importunando-a. Pelo menos assim ficava debaixo de sua asa. Ela era
responsável por aquele moleque de 16 anos recém-transformado e ele lhe rendia
boas dores de cabeça e boas risadas, também. Fisicamente, não parecia ser muito
mais velha do que ele, mas de resto era experiente o suficiente para ser uma
boa e um tanto severa professora. Não havia sido ela que o transformara, afinal
era contra isso, mas quem o fizera era também um novato, e Lilith era a pessoa
mais adequada para lecionar, mesmo sem ter se oferecido.
Caleb era um péssimo aluno na escola, quanto mais na
comunidade de vampiros! Ele era um punk em vida, interessado por sobrenatural,
e achava que ser um vampiro seria a coisa mais divertida possível. Levava tudo
na brincadeira. E ficou um pouco surpreso ao perceber que o livro de história
dos vampiros era a Bíblia. Pelo menos os relatos sobre demônios no livro
sagrado do catolicismo eram verdadeiros e importantes para um vampiro em
formação. Ele não entendia porque e não questionava, apenas tentava ler aquela
coisa tediosa.
Preferia passar a noite inteira testando seus incríveis
poderes de vampiro (sim, eles os chamava dessa forma, e sentia-se melhor que um
super-herói), que iam desde hipnose e velocidade até super força e capacidade
de pular de abismos graciosamente. Lilith o repreendia sem parar, achava que
ele iria terminar se expondo, mas ele não ligava, sem conseguir enxergar riscos
em nada.
No conforto de seu quarto, Lilith desabou sobre a cama queen
size após tomar um longo banho quente. A água escorreu vermelha e preta. Aquela
tinha sido uma noite e tanto. Caleb ficou sentado no carpete, assistindo a um
noticiário na TV. Um locutor com uma expressão nervosa começou a narrar a
notícia chocante do dia:
"Nessa mesma noite foi dado como desaparecido o
estudante Lucas Jacobson, que foi visto pela última vez na boate Dance Club.
Ninguém viu o momento em que o jovem saiu, mas não muito longe dali havia uma
poça de sangue enorme na calçada. Exames de DNA confirmaram ser o dele. O
paradeiro do corpo é desconhecido. As buscas continuam, embora a quantidade de
sangue que ele perdeu não nos dê muitas esperanças."
Lilith levantou os olhos e reconheceu o rapaz da foto que
ocupou a tela inteira. Deu uma risadinha suave, lembrando do sabor. Caleb
levantou uma sobrancelha para ela.
– Você fez uma bela bagunça. - Ele comentou tranquilamente,
tirando a rolha da garrafa. Deu uma leve cheirada.
– Bem, pelo menos me livrei do corpo dessa vez. - Lilith
retrucou, virando para o outro lado e fechando os olhos. Ainda era noite, mas
ela estava tão cansada...
Caleb fez um careta antes de tomar o primeiro gole.
– Não está fresco. Você é uma egoísta, só liga para a
própria alimentação.
Lilith respondeu roncando de leve. Caleb certificou-se de
que ela estava dormindo profundamente. Checou o relógio. 4 da manhã. Dava
tempo, se ele se apressasse, e ninguém iria sequer notar. Ele vestiu seu
moletom preto, colocou o capuz, abriu a janela tomando cuidado para não
produzir nenhum ruído e saltou sem hesitar, aterrissando no jardim dos fundos
com a graça de um felino.
Lá embaixo, colheu algumas flores dama-da-noite de uma
árvore carregada e as juntou num buquê improvisado. Havia aceitado sua nova
existência como um incubo e estava até gostando, mas ainda assim tinha algumas
obrigações entre os vivos. E seu coração podia estar eternamente congelado, mas
ainda tinha algumas razões para bater. Uma delas era Delilah. Não podia voltar
para a sua família naquele ponto, mas Delilah com certeza o receberia. Era o
que ele esperava. Estava correndo um risco absurdo para vê-la, mas não
importava, afinal estava morrendo de saudades. Estava "desparecido"
há um mês. Não sabia exatamente com que palavras iria explicar sua bizarra
situação para ela, mas ela merecia saber.
Gostei muito,tô acompanhando.
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