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sábado, 16 de agosto de 2014

Kill Me - Capítulo 3: "Apenas uma Escapulida"



O quarto de Lilith era surpreendentemente organizado e aconchegante. Ela não dormia em um caixão, e tinha providenciado para si uma TV de tela plana e um notebook. Era um cômodo espaçoso, pintado com cores alegres e não parecia fazer parte daquela mansão mal-assombrada de filme de terror, exceto pelo fato de que a janela era bloqueada por fita adesiva preta e o quarto era iluminado apenas por velas perfumadas espalhadas por todos os cantos.

Caleb tinha seu próprio quarto mas passava a maior parte do tempo lá, importunando-a. Pelo menos assim ficava debaixo de sua asa. Ela era responsável por aquele moleque de 16 anos recém-transformado e ele lhe rendia boas dores de cabeça e boas risadas, também. Fisicamente, não parecia ser muito mais velha do que ele, mas de resto era experiente o suficiente para ser uma boa e um tanto severa professora. Não havia sido ela que o transformara, afinal era contra isso, mas quem o fizera era também um novato, e Lilith era a pessoa mais adequada para lecionar, mesmo sem ter se oferecido.

Caleb era um péssimo aluno na escola, quanto mais na comunidade de vampiros! Ele era um punk em vida, interessado por sobrenatural, e achava que ser um vampiro seria a coisa mais divertida possível. Levava tudo na brincadeira. E ficou um pouco surpreso ao perceber que o livro de história dos vampiros era a Bíblia. Pelo menos os relatos sobre demônios no livro sagrado do catolicismo eram verdadeiros e importantes para um vampiro em formação. Ele não entendia porque e não questionava, apenas tentava ler aquela coisa tediosa.

Preferia passar a noite inteira testando seus incríveis poderes de vampiro (sim, eles os chamava dessa forma, e sentia-se melhor que um super-herói), que iam desde hipnose e velocidade até super força e capacidade de pular de abismos graciosamente. Lilith o repreendia sem parar, achava que ele iria terminar se expondo, mas ele não ligava, sem conseguir enxergar riscos em nada.

No conforto de seu quarto, Lilith desabou sobre a cama queen size após tomar um longo banho quente. A água escorreu vermelha e preta. Aquela tinha sido uma noite e tanto. Caleb ficou sentado no carpete, assistindo a um noticiário na TV. Um locutor com uma expressão nervosa começou a narrar a notícia chocante do dia:

"Nessa mesma noite foi dado como desaparecido o estudante Lucas Jacobson, que foi visto pela última vez na boate Dance Club. Ninguém viu o momento em que o jovem saiu, mas não muito longe dali havia uma poça de sangue enorme na calçada. Exames de DNA confirmaram ser o dele. O paradeiro do corpo é desconhecido. As buscas continuam, embora a quantidade de sangue que ele perdeu não nos dê muitas esperanças."

Lilith levantou os olhos e reconheceu o rapaz da foto que ocupou a tela inteira. Deu uma risadinha suave, lembrando do sabor. Caleb levantou uma sobrancelha para ela.

– Você fez uma bela bagunça. - Ele comentou tranquilamente, tirando a rolha da garrafa. Deu uma leve cheirada.

– Bem, pelo menos me livrei do corpo dessa vez. - Lilith retrucou, virando para o outro lado e fechando os olhos. Ainda era noite, mas ela estava tão cansada...

Caleb fez um careta antes de tomar o primeiro gole.

– Não está fresco. Você é uma egoísta, só liga para a própria alimentação.

Lilith respondeu roncando de leve. Caleb certificou-se de que ela estava dormindo profundamente. Checou o relógio. 4 da manhã. Dava tempo, se ele se apressasse, e ninguém iria sequer notar. Ele vestiu seu moletom preto, colocou o capuz, abriu a janela tomando cuidado para não produzir nenhum ruído e saltou sem hesitar, aterrissando no jardim dos fundos com a graça de um felino.

Lá embaixo, colheu algumas flores dama-da-noite de uma árvore carregada e as juntou num buquê improvisado. Havia aceitado sua nova existência como um incubo e estava até gostando, mas ainda assim tinha algumas obrigações entre os vivos. E seu coração podia estar eternamente congelado, mas ainda tinha algumas razões para bater. Uma delas era Delilah. Não podia voltar para a sua família naquele ponto, mas Delilah com certeza o receberia. Era o que ele esperava. Estava correndo um risco absurdo para vê-la, mas não importava, afinal estava morrendo de saudades. Estava "desparecido" há um mês. Não sabia exatamente com que palavras iria explicar sua bizarra situação para ela, mas ela merecia saber.

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