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terça-feira, 28 de outubro de 2014

Carmem





São exatamente dez e trinta e cinco a madrugada.

Você está sentado na mesa de um bar, cantando sozinho. Bêbado, obviamente.

Sua visão ainda não está turva, mas o álcool já diluiu há tempos sua racionalidade.

Como dito anteriormente, você canta. Canta algo que cambaleia entre “Clementine” e “La Cucaracha”.

O suor escorre da sua testa, e rega o seu rosto gordo e nojento. Seu bigode, desgrenhado, está sujo de cerveja.

Você já deu em cima de todas as mulheres no recinto, e até de alguns homens disfarçados de mulheres também. Sua mão já passeou por bundas e mais bundas, seu rosto já provou diversos tapas, mas o resto do seu corpo, infelizmente, ainda não provou nada além do efeito do álcool.

Você está quase pagando a conta, pronto para voltar pra casa e fazer considerações nada otimistas sobre a sua vida, quando ela surge no seu campo de visão.

Ela é ruiva. Cabelos cacheados. Olhos grandes e verdes. Lábios carnudos e fartos, assim como seus seios. Você não sabe o nome dela. Você não sabe a idade dela. Você não sabe quem é ela. Você só sabe que ela é a mulher mais linda por quem seus olhos já passaram.

O álcool lhe dá coragem, e quando você percebe já está indo na direção da donzela.

Você pergunta seu nome. Carmem, ela responde.

Carmem... Carmem... o nome é saboroso nos seus ouvidos como leite materno derramando na boca de um recém-nascido. Carmem sorri pra você. É impressão sua ou ela está te dando bola?

Vocês conversam. A risada dela é gostosa. Você a convida para tomar alguma coisa. Ela aceita. Seus olhos caçam o decote da ruiva. Ela percebe e sorri pra você. Você pisca. Será verdade? Aquilo não pode estar acontecendo. Uma mulher tão linda dando mole pra um saco de banhas bêbado como você?

A conversa flui, e o movimento dos lábios de Carmem começa a fascinar você. Você começa a se viciar em Carmem, se viciar no cheiro de Carmem, se viciar nos cabelos de Carmem, nos seios, nas coxas de Carmem, nos olhos de Carmem... de uma hora para outra aquela perfeição de cabelos vermelhos passa a se tornar sua musa, sua deusa, sua droga, seu mundo.

Você não aguenta e avança nos lábios dela, beijando-a vorazmente. E, para a sua surpresa, Carmem retribui o beijo.

O calor dos lábios dela é simplesmente a sensação mais deliciosa da sua vida. O hálito de vinho de Carmem enche a sua boca, junto com saliva. Rios de dopamina enchem o seu corpo, e se prazer fosse algo líquido, já estaria vazando pelos seus ouvidos.

Carmem te convida a ir para um lugar mais reservado. Você hesita. Anda seu monte de bosta. Seu gordo escroto. Vai. Essa pode ser a única mulher de verdade que você vai conseguir na sua vida!

Você a segue. Não consegue acreditar na sorte que tem. Ela te leva para um lugar escuro a céu aberto. Você nem olha para os lados para saber aonde está: seus olhos são só Carmem, seu corpo é Carmem, nesse instante você existe para Carmem.

Vocês começam a se beijar, e se despir. O corpo quente de Carmem rega o seu, e vocês se tornam um só. Os gemidos de Carmem o enlouquecem, e você está prestes a...

Carmem enfia a mão no seu peito. Literalmente. As unhas dela rasgam sua carne, estraçalham suas entranhas, e ela arranca seu coração. Paralisado, você pode ver a mulher ruiva devorando o órgão ainda pulsante. Os olhos dela estão agora vermelhos. Você sente uma dor excruciante. Ela começa a chorar sangue. Você não consegue se mover.

Ela, agora com a pele cinzenta, fria, exalando um fedor de cadáver, te abraça, e sussurra no seu ouvido para que você mantenha a calma, que tudo vai ficar bem.

Você tenta gritar, enquanto Carmem está te arrastando pro inferno, para junto das milhares de almas que ela coletou.

Seu corpo é encontrado de manhã cedo pelo coveiro do cemitério. Não se sabe como, você abriu uma das covas. Foi encontrado nu, agarrado a um cadáver que se encontrava em estado avançado de putrefação. Em seu rosto estava congelada uma expressão aterrorizada.

A polícia deu como causa da morte parada cardíaca devido à embriaguez. Seus parentes preferiram não comentar sobre o lugar e o estado que você foi encontrado. Faz bem para a sua dignidade. Ninguém quer aceitar a verdade. Pelo menos, não ela como um todo.

Somente você sabe o que realmente aconteceu naquela noite, na última noite da sua vida.

Somente você... e Carmem.

3 comentários:

  1. QUE MASSA ESSA CREEPY, MUITO BOA MESMO CONTINUEM NESTE NÍVEL PESSOAL, VALEU!

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  2. Essa creepy Heitor é de um fã amigo nosso mesmo que a o profeta risonho

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