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domingo, 4 de janeiro de 2015

Francis


Este é um curta de terror excelente, dirigido por Richard Hickey e escrito por Dave Eggers. A narração em inglês é a leitura do conto no qual o curta foi baseado. Aqui está o conto traduzido por mim. Você escolhe se prefere assistir o vídeo primeiro (não tem falas, dá para entender sem problemas) ou ler o conto antes. Aviso: Ler o conto antes não vai deixar menos assustador.


"Quando eu era jovem, vivendo nos subúrbios de Chicago, eu ia para um acampamento em Quetico Provincial Park, que ficava em Minesota, Canadá. O nome sugere que o local era pequeno, pois Quetico é um pontinho no mapa. Nós acampávamos, indo a lugares tão isolados que poderíamos passar dias e dias sem ver nenhuma outra alma viva. Nós encontrávamos diversos animais e dormíamos sob um céu coberto de estrelas. Estávamos tão cercados por natureza, que podíamos realmente beber das águas límpidas dos lagos. Era bem divertido, mas eu nunca mais voltaria lá. Não depois do que aconteceu com Francis.

Francis tinha 17 anos naquela época. Ela possuía cabelo preto e um espírito ousado. Estava sempre buscando andar pelo caminho que ninguém se aventurava, descobrir lugares novos e... Ficar sozinha. Dizem que ela estava viajando com a família. Eles foram para uma área remota do Park, onde haviam lagos muito profundos. Uma reserva de águas misteriosas que diziam ter milhares anos de idade. A profundidade desse lago em particular onde eles estavam era de cerca de 300 metros.

Certa noite, quando todos dormiam, Francis se afastou do acampamento onde estava. Ela queria encontrar um ponto absolutamente silencioso no meio do lago onde poderia ficar sozinha com seus pensamentos, deitada em sua canoa, olhando para o deslumbrante céu noturno. Então ela embarcou e remou para longe da margem. Ela só ficou satisfeita quando mal conseguia ver as luzes do acampamento. Ela deitou no assento e levantou os olhos para as estrelas, que estavam especialmente brilhantes naquela madrugada, refletindo sua luminosidade nas águas escuras, que pareciam salpicadas de neon.

Francis estava se sentindo completamente em paz. Então ela ouviu um barulho estranho vindo debaixo da canoa. Parecia uma batida. Ela se endireitou, alarmada, e olhou para ver se havia topado em algo sólido, mas estava em plenas águas, alguns metros afastada da margem. Não havia pedras nem nada do tipo. Ela voltou à deitar, dizendo a si mesma que poderia ser algum peixe ou tartaruga, que nadava tranquilamente embaixo da embarcação. Ela relaxou novamente e voltou à observar a imensidão, distraída.

Ela havia acabado de fechar os olhos quando ouviu outra batida. Dessa vez mais alta, insistente. Era idêntico ao som de alguém batendo em uma porta, só que a pancada era na madeira do casco da canoa. Agora ela estava assustada. Ela novamente olhou em volta, tentando descobrir a origem daquilo. Tinha de ser um animal... Mas que tipo de animal poderia bater como um ser humano? Ela ficou atenta à qualquer movimento e espreguiçou-se. Agora ela percebia o quanto estava vulnerável no barquinho.

Algum tempo se passou e Francis estava quase achando que tudo foi fruto da imaginação dela. Então a batida voltou. Bem mais alta. Ela precisava sair dali. Ela começou a remar energicamente. A água era bem fluída, então ela deveria conseguir se mover facilmente. Mas depois de um tempo, ela se cansou e olhou em volta. E percebeu que ainda estava no mesmo lugar. Alguma coisa a estava mantendo exatamente naquele ponto.

Mais uma vez ela remou, até seus olhos ficarem marejados de desespero, e a canoa não se movia. Ela parou, pois estava exausta, e respirando com dificuldade. Ela chorou e soluçou, mas logo se recompôs. Quando ela estava começando a se acalmar, a batida retornou, mas alta e forte do que em qualquer outra vez e acompanhada de uma sacudida violenta.

A canoa oscilava com cada pancada. Francis começou a questionar suas decisões. A primeira foi remexer a água com o remo, tentando sentir alguma coisa. Ela sentiu um puxão súbito e agressivo, e o remo foi arrancado de suas mãos e afundou nas águas negras. O outro também foi tirado do seu alcance, e ela o viu flutuando para longe. Agora ela não tinha opções. Tudo o que ela podia fazer era sentar. E rezar. E esperar, até alguma coisa aparecer, ou algo acontecer.

Para passar o tempo, ela começou a escrever em seu caderno. Só por causa disso sabemos o que ocorreu naquela noite. Francis nunca mais foi vista novamente. A canoa estava de volta à margem do lago, e largado no piso de madeira, estava o caderno, lotado de rabiscos até a última folha. Dava para perceber que ele ainda estava molhado. Nas duas últimas folhas do caderno, escritas à dedo, com algo que poderia ser musgo ou sangue, estavam as seguintes palavras: "EU BATI ANTES."

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