-->

Bem vindo à Família

LPSA

readiscreepy.blogspot.com.br Onde Ler Pode Ser Assustador

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Por que eu sou tão feia?


  Diariamente, Caroline sentava próxima à janela de seu quarto e observava as outras crianças brincando na rua. Ela era triste e solitária e desejava poder, algum dia, brincar junto com elas.

  Havia esse menino em particular. Ela o via sempre. Ele era a coisa mais bela que ela já tinha visto. O coração de Caroline doía. Ela fantasiava em ir falar com ele ou segurar sua mão. Ela o imaginava tomando-a em seus braços e beijando-a nos lábios, apenas uma vez.


  Certa noite, quando sua tia subiu as escadas com seu jantar, Caroline juntou coragem para lhe fazer uma pergunta.

  - Por que não posso sair de casa? - Perguntou Caroline.

  - Porque você está doente. - Respondeu a tia.

  - Mas eu não me sinto doente.

  - Bem, você está doente, então cale a boca. - A tia resmungou e com isso, saiu batendo a porta.

  Ainda naquela noite, o tio foi até lá para conversar com a menina.

  - Eu soube que você andou fazendo perguntas de novo. - Disse ele em tom irritado.

  - Me desculpe, tio. - Sussurrou Caroline.

  - Se você continuar perguntando, vou ter que te bater mais uma vez. - Seu tio replicou ameaçadoramente. - Não me provoque, menina.

  No dia seguinte, seus tios a mudaram para um quarto diferente. A janela deste dava para os fundos da casa. Agora Caroline não conseguia mais ver as outras crianças brincando.

  Anoiteceu, e quando seu tio foi levar o jantar, ele o colocou na mesa e sentou-se ao lado dela.

  - Ouça-me, criança - Disse ele. - A razão pela qual te deixamos trancada aqui é que você é feia. Você é hedionda e deformada. O resto da sociedade não tolera aberrações da sua natureza. Você é um monstro. Uma criatura malformada e repugnante. Por anos e anos, todos aqueles que nasceram como você foram levados até a igreja e queimados na estaca.

  - Mas por que... Por que eu sou tão feia? - Caroline choramingou. - Eu não me sinto feia...

  - Não consegue ver a si mesma?! - Rosnou o tio. - Olhe para as suas mãos! A sua boca! Os seus olhos! Você não percebe como eu passo mal cada vez que olho para você? Você não entende os sacrifícios que eu e sua pobre tia fizemos para manter você escondida aqui todo esse tempo? Por que você acha que é assim? Não é óbvio? Se algum dia alguém visse você, te levariam até a igreja e você seria seria queimada viva! Eu mesmo teria feito isso se sua mãe não tivesse me implorado para não fazer.

  Caroline encarou as próprias mãos e caiu em prantos.

  - Talvez seria melhor se eu nunca tivesse nascido. - Exclamou ela.

  - Talvez. - Disse o tio e saiu sem mais nenhuma palavra.

  Naquela madrugada, enquanto seus tios dormiam, Caroline usou um alfinete para abrir a fechadura da porta de seu quarto. Ela se esgueirou para fora e desceu as escadas na ponta dos pés. Abriu a porta da frente o mais silenciosamente possível e saiu de fininho. Ela não sabia para onde estava indo. Tudo o que ela sabia era que precisava sair dali.

  Era uma noite fria e chuvosa e Caroline vestia apenas uma camisola fina. Seu corpo arrepiava-se de frio e o cascalho feria seus pés descalços enquanto ela caminhava pela estrada. Ela se mantinha nas sombras, tentando ficar fora de vista.

  Só então, ela percebeu a presença de dois homens parados logo adiante. Ambos vestiam uniformes. Quando a viram, gritaram:

  - Quem é você? Pare!

  Caroline começou a correr. Ela podia ouvir passos seguindo-a. Ela passou por entre duas casas e atravessou os jardins dos fundos. Sua camisola ficou presa em um galho de árvore. Ela não conseguia se libertar, então arrancou a roupa e continuou correndo.

  Ela estava nua agora e o frio só aumentava, mas ela sabia que precisava continuar. Ela corria enquanto as luzes ao redor se acendiam e as pessoas nas casas começavam a berrar.

  Passando por um beco, ela se deparou com um homem. Quando ele a viu, seus olhos se arregalaram e ele gritou:

  - Monstro! Monstro!

  Ela correu na direção oposta, empurrando os arbustos pelo caminho e arranhando sua pele, até que se encontrou na rua novamente. Ela estava tão cansada que não conseguia mais se mover e colapsou em cima de um monte de entulho no chão.

  Pessoas chegaram correndo e se reuniram ao redor dela, seus rostos contorcidos de raiva e repugnância. Eles começaram a chuta-la e soca-la, berrando:

  - Quem é você? De onde você veio? Por onde esteve se escondendo?

  Eventualmente, um padre abriu caminho pelo meio da multidão barulhenta.

  - Levem-na para a igreja! - Ele ordenou. - Esta noite, nós nos livraremos de um monstro!

  O povo arrastou Caroline até a igreja e a amarrou a uma cruz de pedra acima do altar. Eles empilharam madeira em cima de seus pés. O padre começou a entoar um cântico enquanto as pessoas começavam a rezar. Em seguida, ele pegou uma tocha acesa da parede e a segurou sobre a estaca de madeira, que irrompeu em chamas.

  Caroline gritou de puro terror. Ela implorou por misericórdia e para que poupassem sua vida, mas ninguém ouviu suas súplicas.

  O fogo aumentou rapidamente e a fumaça começou a subir em torno dela. Ela virava e se debatia, desesperadamente tentando desviar do calor e das labaredas, mas de nada adiantava. A fogueira crescia cada vez mais. À medida que o corpo nu da menina era engolfado pelas chamas, o padre lhe deu as costas e se direcionou à congregação.

  - Vejam o rosto distorcido daquele monstro! - Ele exclamou. - Olhem seu corpo deformado. Reparem naquelas mãos! Apenas quatro dedos e um polegar! Olhem aquela cara hedionda! Apenas dois olhos! Somente um nariz! Vejam aquela boca nojenta! Com lábios vermelhos em vez de verdes! E os dentes, de um branco tão doentio!

10 comentários:

  1. Nossa, que conto bizarro. Õ.õ
    Gostei!

    ResponderExcluir
  2. E ainda chamam isso de aberração? Pois preparem ai uma fogueira coletiva colossal.Não vai ter madeira suficiente pra queimar todo mundo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ela vive em algum tipo de planeta alienígena onde os seres humanos são vistos como criaturas deformadas.

      Excluir
    2. Ela deve morar num mundo pós-apocalíptico ou slá onde a raça humana é rara

      Excluir
  3. Gostei, apesar revelação final ter sido meio que esperada. Logo nos últimos parágrafos eu já tinha uma ideia do que poderia ser a "aberração".
    Ainda assim, ótima história.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu só consegui identificar no último parágrafo mesmo! Até então pensei que a menina era um "corcunda de Notre Dame" no ano de 1700...

      Excluir
    2. pensei o mesmo Gabriel,pensei mesmo :|

      Excluir
  4. Eu acho que ela vive em outro planeta.
    Se não todo mundo ia morrer por que se parecia com essa menina !!

    Gostei 8D

    ResponderExcluir

ENVIE SUA MENSAGEM!