Uma vez, quando eu tinha seis anos, acordei no meio da noite para me deparar com minha mãe, de pé diante da minha cama, encarando-me com um sorriso assustador no rosto. Havia algo de errado... Eu não poderia dizer exatamente o que, mas com certeza havia.

  - Mamãe? - Eu disse.

  - Sim? - Respondeu ela. Sua voz parecia monótona, inexpressiva.

  - O que você está fazendo? - Perguntei.

  - Vendo você dormir.

  - Por quê?

  - Porque... - Ela começou, mas não disse mais nada.

  Eu não sei como, mas eu sabia, sem qualquer sombra de dúvida, que aquela coisa não era minha mãe.

  Ela me encarava e eu retribuía seu olhar. Mantínhamos contato visual constante. Nenhum de nós piscava.

  Eu sabia... e ela sabia que eu sabia. Ambos sabíamos que estávamos jogando um jogo. A brincadeira era ver qual de nós iria piscar primeiro.

  - Está na hora de dormir. - Disse aquela coisa.

  Eu não respondi. Apenas continuei encarando.

  - Hora de fechar os olhos. - Continuou.

  - Não vou fechar os olhos. - Sussurrei.

  Eu resisti ao máximo, tensionando cada músculo do meu corpo, me esforçando desesperadamente para não piscar.

  Então, com muito cuidado, sem se virar ou quebrar o contato visual, aquilo alcançou a porta do armário, abrindo-a silenciosamente. Quando estava totalmente aberta, a coisa entrou lá dentro, escondendo-se na penumbra até apenas o sorriso e os olhos arregalados ficarem visíveis. Então, com a mesma cautela, ela fechou a porta novamente.

  Passei muito tempo deitado ali, tremendo de medo sem emitir qualquer som. Eu mantinha meus olhos fixos na porta do armário, esperando por qualquer sinal de movimento.

  Muito lentamente, eu escorreguei para fora da cama, sem desviar o olhar do armário. Cautelosamente, dei três ou quatro passos para a direita até chegar à porta que dava para o corredor. Por nenhum segundo eu tirei os olhos daquela porta.

  Então, saí correndo. Corri pelo corredor escuro até a segurança do quarto da minha mãe. Ela estava deitada ali na cama dela, dormindo tranquilamente.

  Uma onda de terror me dominou enquanto todos os meus piores medos se realizavam.

  Apenas então eu me permiti piscar.