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sábado, 5 de março de 2016

A menina que não era bem uma menina


  Eu morei em uma casa infernal por quatro anos, ou seja, dos meus onze anos de idade até quase os dezesseis. Havia constantemente algo acontecendo. Portas se abrindo e fechando sozinhas, vozes, passos. Nada nunca permanecia onde você deixava. Eu passava muito tempo sozinha lá porque ambos meus pais trabalhavam, e estava sempre aterrorizada.

  Uma das coisas mais perturbadoras era uma garotinha no banheiro. Sempre que eu atravessava a porta do meu banheiro (o que era frequente, pois ele ficava bem no lado de fora do meu quarto), eu via uma menina com cabelo loiro cacheado e um vestido cor-de-rosa. Ela apenas ficava parada ali, encarando, parecendo uma fotografia de 1905.

  Eu passei a manter a porta fechada para não ter de vê-la, mas ela estava sempre lá quando eu abria. Assim que eu passava por ela, ela desaparecia, embora eu ainda pudesse sentir sua presença. Ela me assustava, porém, eu sentia muita pena dela porque ela estava presa naquele lugar, assim como eu, só que provavelmente pelo resto da eternidade.

  À medida que os anos passavam, e a situação na casa piorava cada vez mais, ela começou a parecer... Mais sombria. Eu passei a sentir que ela não era realmente uma menina. Eu sabia que havia algo terrível habitando aquela casa, e parecia que aquilo estava mostrando apenas sua melhor face para mim. Então eu comecei a achar que estava enlouquecendo completamente.

  Um dia, quando eu tinha catorze anos, uma amiga de fora da cidade veio passar uma semana comigo. Eu não havia lhe contado nada sobre a casa porque achava que ela não viria se soubesse. Assim que ela chegou, estávamos sentadas no meu quarto e ela saiu para ir ao banheiro. Cerca de um minuto depois, ela voltou com uma expressão confusa no rosto e disse:

  - Então... Tem uma garotinha no seu banheiro.

  - Sim, ela costuma estar por lá. Cabelo loiro?

  - Cachos? Vestido rosa? É. Você sabe que ela não é mesmo uma menina, né?

  Eu quase vomitei. Estava tão aliviada, aterrorizada e animada que tinha vontade de sair correndo da casa, aos berros. Ela não usou meu banheiro pelo resto da semana e tentou usa-lo o mínimo possível sem irritar meus pais (que não queriam acreditar).

  Eventualmente nós nos mudamos daquela casa e eu não poderia estar mais feliz. Eu me distanciei daquilo mentalmente o máximo que podia. Então, quando eu tinha dezoito anos, eu trouxe outro amigo em uma viagem para empacotar algumas coisas que eu havia deixado na casa (meus pais não conseguiram vende-la, e não conseguiriam por mais cinco anos).

  No momento em que chegamos na propriedade, meu amigo começou a ficar visivelmente desconfortável. Mal atravessamos a longa calçada íngreme, e ele ficou totalmente pálido. Eu sabia que havia algo de errado, mas ele insistia que estava bem, então começamos a trabalhar.

  Após um tempo ele pediu para ir ao banheiro e eu lhe indiquei o meu. Menos de vinte segundos depois de sair, ele voltou correndo e ofegante, batendo a porta atrás de si. Ele começou a balbuciar sobre uma garotinha loira que não era o que parecia ser. De repente ele ficou completamente parado, me olhou nos olhos, e disse em tom muito solene:

  - Ela não está feliz. Com você. Você foi embora, e não deveria ter feito isso.

  Nós pegamos tudo o que conseguiríamos carregar em duas viagem de carro (depois que eu o levei até outro banheiro e esperei do lado de fora da porta) e saímos dali como o diabo fugindo da cruz.

5 comentários:

  1. Creepys eram pra ter uma parte assustadora, não?...

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. A "parte assustadora" precisa ser tão óbvia? Esse é um relato sobrenatural, não apareceu exatamente nenhum monstro ou demônio, mas deveria dar medo pela ideia.

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  2. Estou a gostar da história. Aguardo pelos proximos episódios!

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