O Diário Mental de Henrietta Jones [REVISAR]
- Publicado por:
- Alan Cruz
O vento soprava forte entre as casas, fazendo com que janelas batessem subitamente e as cortinas se ouriçassem, dançando sobres os moveis de mogno das salas, nas casas simétricas e amarelas da Rua Orton. Menos as cortinas da casa dos Jones, que estavam intactas, mas não pela janela estar fechada, mas porque elas eram feitas de um tecido pesado que impedia que qualquer sopro ou luz entrasse na casa.
O senhor Frank Jones era alguém de que toda a vizinhança desconfiava.
A senhora Torps, desconfiava que ele havia roubado um de seus lustrosos anões de jardim. O senhor Donner, que morava do outro lado da rua, desconfiava que ele havia atropelado sua caixa de correio em uma manhã nublada de sábado. E a pequena Tifani Wilson achava que ele havia furado os pneus de sua bicicleta nova, apenas por ela ter passado outro dia por cima do gramado seco dele.
Mas como ele poderia fazer isso, aparentemente eu não sei, pois segundo o medico da família ele possui várias doenças, como: hernia de disco, bico de papagaio, tendinite, artrite, e joanetes nos pês, que tirariam a fome de qualquer um. E como eu sei disso?
Bem eu sou a neta dele. Eu nasci e cresci nesta casa, e apesar de ser tetraplégica, eu tenho uma boa vida.
Meu avô me disse que minha mãe se foi á muito tempo, e minha avó também. Ele é a única pessoa que eu conheço e confio, apesar de as vezes ele me assustar com o modo que fala comigo. Não é que eu não seja grata por tudo que ele me faz, mas ele nunca responde as minhas perguntas, em relação ao passado.
Outro dia eu pedi para ver a foto da minha mãe, e ele disse que não tinha nenhuma, eu perguntei se tinha alguma de minha avó, e ele me mostrou uma foto dela de quando ela era adolescente, o estranho é que ela estava em uma lanchonete, e a foto estava em um ângulo estranho, como se tivesse sido tirada de baixo de uma mesa.
Bom até ai tudo bem, mas então eu o perguntei o porquê de eu ter ficado daquela maneira, e se eu apenas não me mexia, por que ele substituiu meus braços e pernas por membros de plástico? Naquele dia ele apenas ficou zangado, e respondeu que era para eu ser locomovida melhor.
Depois de algum tempo eu parei de perguntar, mas então uma revolta começou a crescer dentro de mim. Tínhamos uma biblioteca no primeiro andar, e eu o perguntei porque nunca me ensinaram a ler... E no dia seguinte, havia um medico em nossa casa.
Ele chegou em um horário estranho, por volta das dez da noite, e meu avô me disse que ele havia vindo me medicar, mas eu não estava doente, eu nunca ficava doente. Mas o que eu podia fazer não é? Além de ficar la parada sem resistir. Eles me deitaram em uma maca, e o medico introduziu uma injeção em meu pescoço.
Eu apaguei. Por um minuto eu me elevei á inexistência total.
Quando me dei conta, estavam me mandando abrir os olhos, eu nem sequer sabia que estava viva. O doutor, esperou que eu estivesse totalmente acordada, e me explicou, que teve de tirar minhas amígdalas e que eu iria apenas me alimentar de líquidos a partir dali, e que não poderia falar. Ele instruiu meu avô que me desse um remédio para dor duas vezes ao dia, e esse me daria sono.
Quatro dias, três semanas, dois meses, e eu não conseguia falar, mas já me alimentava normalmente, o que era muito melhor do que a comida batida no liquidificador, que tinha gosto de merda.
Mas ainda sim, o pior estava muito mais perto agora. Eu continuava tomando remédios, todos os dias, mas no dia que eu não tomei o medico veio me visitar novamente. Ele trazia com ele um assistente, que o ajudou a carregar para dentro da casa muitas coisas pesadas, pelo que pude ouvir, eu vi vários aparelhos sendo arrastados pelo corredor, e então foram provavelmente colocados na sala de hospedes.
Ele vieram me buscar numa maca novamente, e eu nada pude perguntar dessa vez. Eles me colocaram em uma cama que haviam vários aparelhos em volta,um deles uma televisão pequena e amarela.Eles levantaram meu pijama e passaram um gel em minha barriga, o medico entrou no quarto, com uma mascara no rosto, e me olhou com um ar de pena. Ele sacou um aparelho e passou em minha barriga. Na pequena tevê ao lado da cama, as imagens começaram a surgir, eram borrões brancos, mas para o medico aquilo fez todo sentido. Meu avô entrou no quarto com os olhos brilhando e um sorriso no rosto. O medico olhou para ele e lhe deu os parabéns..."Parabéns o senhor é um homem de sorte, é uma menina."
Mas eu eu estava com o rosto branco, e gelado como se uma geladeira tivesse caído sobre minha cabeça, eu estava gravida, do meu avô... Eu olhei para todos em volta e comecei a chorar um choro sem som, que apenas era percebido pelo meu rosto vermelho e inchando e as lágrimas e inundavam meus olhos.
Naquela noite eu não dormi.
Alguns meses se passaram, e eu nada pude fazer, eu apenas estava ali viva, como uma planta, mas sem nenhuma razão para viver. Até que certo dia meu avô sentou na beira de minha cama com uma caixa nas mãos. Ele disse com um sorriso sombrio no rosto "Gostaria de conhecer sua mãe?". E eu apenas balancei a cabeça, acenando um sim.
Ele então tirou da caixa muitas fotos, ela era linda, em uma foto ela era uma pequena menina loira, brincando com uma boneca, e sentada em uma cadeira de rodas. Em outras fotos ela já era adolescente e tinha longos cabelos lisos e loiros, e usava uma blusa de renda que mostrava seus seios fartos. Mas não a havia nenhuma foto da minha avó ali, pelo menos ele não me mostrou. Eu as estava observando, notando a semelhanças que nós tínhamos, eu e minha mãe. Quando fui interrompida pelos soluços de choro do meu avô, que olhava para uma das fotos e a molhava ao mesmo tempo com suas lágrimas.
Ele olhou para cima, nos meus olhos e começou a contar o que seria a história da minha vida.
"Querida eu não queria que isso tudo fosse tão doloroso para você, mas isso que faço é o legado que meu pai deixou para mim, eu sou fruto de uma de suas bonecas, e como nasci um menino ele não pode me transformar, ou me vender."
Eu franzi minhas sobrancelhas em um movimento, que demostrava minha confusão mental, e ele continuou.
"Olha meu amor, eu sei que vai parecer perverso, mas sua avó e sua mãe foram minhas bonecas sexuais, assim como você foi e sua filha será. Mas lhe prometo que depois dela não haverá mais nenhuma. Você teve mais três irmãs e tinha uma tia. E todas elas foram vendidas pelo mundo, e com o dinheiro eu consegui a boa vida que eu tenho, e lhe proporcionei pelo que você teve de vida. Sua avó... Aaahh... Ele era uma moça muito bonita quando meu pai me ajudou á pegá-la, mas cometemos muitos erros. Dos quais eu nunca mais cometerei"
Meus olhos estavam em um diluvio incessante, eu comecei a bater minha cabeça no travesseiro, tentando me causar alguma dor que me levasse a morte, mas a cama era confortável demais, grande demais, e tinha grades nas laterais.
Nos dias que seguiram, eu me comportei como o que ele queria que eu fosse, eu não comia e não dormia, minha barriga estava enorme, e eles continuavam me dizendo que se eu não comece, mataria a mim e ao feto. Eu respondia sempre com uma cara zangada que queria dizer o palavrão mais ofensivo de todos. Mas mesmo eu tentando lutar, o dia em que eu tinha de dar a luz chegou.
Eu grunhia, e abria minha boca como se gritasse, mas a única coisa que eu podia fazer era contorcer meu torço. O medico chegou as pressas e eu já estava na mesa para o parto. Eles me deram, acho que anestesia local, pelo que entendi o medico falar. E cortaram minha barriga ao meio, sem se importar se eu assistia. Eu vomitei no sapato do ajudante que estava ao meu lado, e levantei a cabeça num sorriso insano, olhando para ele, como se aquela fosse minha vingança. Eles puxaram e repuxaram meus intestinos, e depois tiraram a pequena bebê infeliz, eles cortaram o cordão que me ligava a ela, colocaram minhas entranhas para dentro e me costuraram.
Mostraram-me a bebê, era linda. Meu sequestrador/avô então me trouxe o restante das fotos que eu não havia visto. E apesar daquela ser uma péssima hora eu aceitei ver. Em uma mostrava minha mãe de roupas intimas, deitada em uma cama dopada, ela ainda tinha seus braços e pernas. Em outra ele mostra a mim deitada na cama do meu quarto vestida do mesmo modo sensual.
Nessa hora eu reuni toda a saliva em minha boca e cuspi no rosto dele, ele então me deu um tapa na cara que eu quase quebrei o pescoço.
Mas ele continuou a me mostrar as últimas fotos, era uma foto dele ao lado da minha mãe que me segurava no colo. Ele então tirou de dentro da caixa uma máquina fotográfica, e pediu para que o assistente tirasse uma foto nossa com o bebê. O homem parecia enojado, com ânsia, mas, mesmo assim, ajudou.
Meu "sequestravô" me deu um beijo na testa, e disse que nossa filha seria perfeita como um animal lobotomizado. Ele então pegou a mão da bebezinha e fez com ele um gesto de adeus, e falou em quanto saia do quarto "Esqueci de lhe falar como sua mãe morreu, mas você vai saber logo, assim como vai descobrir o que temos no porão". Ele saiu do quarto fazendo um gesto para o assistente me levar para baixo.
Eles desceram comigo os três lances de rampas, até chegarmos ao térreo onde entramos em uma porta preta brilhante. Ele me jogou no chão, e o medico tirou uma seringa... injetou um liquido viçoso no meu braço, e tudo começou a ficar turvo. A última imagem que vejo é do assistente, abrindo a porta de um grande forno...
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